Sargento auxiliar de Bolsonaro movimentou R$ 3,3 mi e repassou parte dos recursos para Mauro Cid

O sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, que atuava na equipe dos ajudantes de ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro, movimentou em suas contas R$ 3,34 milhões entre 1º fevereiro do ano passado e 8 de maio deste ano. Com salário de R$ 13,3 mil ele recebeu dezenas de depósitos e repassou parte dos recursos para o tenente coronel Mauro Cid, seu chefe e principal auxiliar de Bolsonaro.

Juntos, os dois militares movimentaram R$ 7 milhões. Os dados são do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e foram enviados à CPMI do 8 de Janeiro a partir de requerimento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). Segundo o Coaf, os repasses de recursos de Reis para Cid, incompatíveis com a renda do militar, foram considerados como indícios de possível lavagem de dinheiro.

O Coaf já tinha apontado que Cid movimentou, entre 26 de julho do ano passado e 6 de maio deste ano, R$ 3,75 milhões.

Só entre fevereiro do ano passado e 20 de janeiro deste ano, o sargento Reis recebeu R$ 1,5 milhão em uma conta bancária no Banco do Brasil. Parte desse dinheiro foi obtido em 105 transferências via Pix. No mesmo período, saíram de sua conta R$ 1,6 milhão, maior parte em transferências bancárias. Ele emitiu R$ 336,2 mil em Pix. Relatório do Coaf cita, sem dar detalhes, que o militar teve 11 TEDs (transferências eletrônicas) devolvidas no valor total de R$ 500 mil.

Antes de ser preso, o sargento Reis chegou a participar dos atos em Brasília que depredaram as sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) em 8 de janeiro.

Reis foi preso em maio sob suspeita de participação em um esquema que emitiu comprovantes falsos de vacinação contra a Covid-19. O sargento teria acionado seu sobrinho, o médico Farley Vinicius Alcântara, para preencher e carimbar um dos cartões falsos emitidos em nome da mulher de Cid.

Na operação que prendeu os envolvidos na fraude dos cartões de vacinação até mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro também foram detidos o próprio Mauro Cid, os assessores do ex-presidente, Max Guilherme e Sergio Cordeiro, o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ) João Carlos Brecha e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.

Dados do Coaf em relação à movimentação do coronel Mauro Cid já haviam indicado que o sargento Reis tinha repassado no intervalo de três meses R$ 82 mil ao seu superior. O relatório registra que o salário mensal do sargento era de R$ 13,3 mil, renda incompatível para justificar os repasses de recursos que ele fez.

“Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa e as citações desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro”, diz o relatório do Coaf.

Diamantes de presente

Investigações da PF encontraram indícios de que Cid e outras pessoas próximas montaram um esquema para vender no exterior joias e relógios que Bolsonaro recebera como presidente da República e deveria ter sido destinados ao acervo da União.

A PF descobriu que os presentes foram colocados em leilão nos Estados Unidos. Conversas trocadas por meio de whatsassp revelaram ainda que Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, atuaram para trazer do exterior dinheiro a ser entregue pessoalmente a Bolsonaro.

Daniel Haidar/Estadão