‘Kids pretos’ desistiram de matar Moraes no dia previsto porque cúpula do Exército não aderiu ao plano, mostra investigação

Informação foi enviada no relatório da PF que acusa Bolsonaro e outros 36 homens por tentativa de golpe de Estado

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista identificou que equipes formadas por militares das Forças Especiais (FE) do Exército, chamados “kids pretos”, grupo de elite da corporação, desistiram de matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes porque a cúpula do Exército não aderiu ao plano de golpe.

A informação foi enviada no relatório da PF analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 nomes, a maioria militares, por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa pelos atos que culminaram no 8 de janeiro de 2023. A denúncia da PGR foi protocolizada no STF nesta terça-feira.

“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório da PF.

A negativa de adesão teria ocorrido no dia 15 de dezembro, data em que um grupo de seis pessoas monitorava os passos de Moraes, por Brasília, na intenção de executar o plano. Nesse dia, Bolsonaro recebeu Freire Gomes, comandante do Exército, no Palácio do Planalto. Naquele dia, Mario Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral, havia enviado um áudio ao general Ramos, titular da pasta, mostrando otimismo na adesão das Forças Armadas.

“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, disse Fernandes. Freire Gomes, no entanto, frustrou os planos do grupo e não aderiu aos planos golpistas, segundo relatório da PF.