Ameaças a servidores do INSS expõem esquema bilionário de descontos ilegais em benefícios

Servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foram alvo de ameaças após bloquearem descontos ilegais aplicados em benefícios de aposentados e pensionistas. O recuo na fiscalização do órgão resultou em um aumento expressivo nos repasses a associações suspeitas, que saltaram para R$ 4,3 bilhões.

A reportagem revelou que, há cinco anos, um servidor do INSS denunciou à Polícia Federal que começou a receber ameaças após descredenciar associações envolvidas em práticas irregulares. Em setembro de 2020, a mãe de um dos servidores recebeu uma mensagem ameaçadora no celular, indicando que o filho dela seria alvo de uma “surpresa”.

Outro servidor recebeu uma mensagem similar, que continha detalhes pessoais como o nome da mãe, o modelo do carro dela e endereços relacionados ao funcionário. Ambos eram responsáveis por combater fraudes e interromper descontos ilegais em folha de pagamento dos aposentados.

Os servidores denunciaram o caso à Polícia Federal, que abriu inquéritos, mas as investigações foram transferidas para o Paraná, pois o número de telefone utilizado nas ameaças era da região. Apesar das denúncias e da abertura dos inquéritos, as investigações não avançaram.

Em meio ao clima de intimidação, o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, editou uma portaria em 2020 que alterou o setor responsável pela fiscalização dessas associações. Essa mudança coincidiu com a reabilitação de entidades que haviam sido descredenciadas por irregularidades.

Dados do Portal da Transparência revelam que as associações envolvidas passaram a aumentar os descontos nos benefícios dos segurados de forma expressiva. O montante passou de R$ 36 milhões em 2020 para R$ 2,4 bilhões em 2024 e, entre janeiro e março de 2025, já atingiu R$ 655 milhões.

Apesar da gravidade das denúncias e do impacto financeiro, os inquéritos sobre as ameaças foram arquivados sem que os responsáveis fossem identificados. Além disso, a Polícia Federal não tomou depoimento de representantes das associações nem realizou diligências no INSS ou nas entidades envolvidas.

A Operação Sem Desconto, que revelou diversas irregularidades envolvendo essas associações, só foi iniciada em 2024, após a imprensa expor o caso. O ex-presidente do INSS, Leonardo Rolim, alegou que as mudanças no controle das entidades ocorreram dentro de um processo de reestruturação do instituto e que deixou o cargo em 2022.