O recém-eleito presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Samir Xaud, ocultou da Justiça Eleitoral a posse de dois imóveis durante sua candidatura a deputado estadual por Roraima em 2018. Na ocasião, Xaud declarou patrimônio de apenas R$ 200 mil, referente a três carros e uma motocicleta. Contudo, registros cartoriais revelam que, à época, ele possuía dois imóveis em conjunto com sua esposa, Natália Xaud.
A prática pode configurar crime eleitoral, conforme o artigo 350 do Código Eleitoral, que prevê pena de até cinco anos de prisão e multa para quem omitir ou inserir informações falsas em declarações públicas para fins eleitorais.
Apesar das evidências, a CBF enviou nota negando qualquer irregularidade envolvendo Samir Xaud ou sua declaração de bens. A entidade anexou certidões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que mostram ausência de pendências formais do dirigente com a Justiça Eleitoral. O próprio Xaud, no entanto, não respondeu aos contatos.
Imóveis ocultados: valores e histórico familiar
Um dos imóveis não declarados é uma casa de 583 metros quadrados localizada no bairro Mecejana, em Boa Vista. Segundo a matrícula, o casal adquiriu o bem em 2013 por R$ 240 mil e o revendeu em 2021 por R$ 456,9 mil para uma incorporadora local. Já o segundo imóvel aparece apenas na declaração de bens de Xaud em 2022, avaliado em R$ 132 mil, mas não constava na prestação de contas de 2018, embora tenha sido adquirido em 2007 por permuta com seu irmão, Sanderson Xaud.
Curiosamente, o terreno, de 587 metros quadrados no bairro Paraviana, já havia sido da propriedade dos pais de Samir, José “Zeca” Gama Xaud e Ilma Xaud. Zeca é presidente da Federação Roraimense de Futebol há quase cinco décadas, enquanto Ilma ocupou cargos públicos importantes, como secretária de Educação do estado e do município.
Histórico de ações judiciais e bloqueio de bens
O nome de Samir Xaud aparece ainda em pelo menos cinco ações trabalhistas em Roraima, que resultaram em bloqueios judiciais, inclusive sobre os dois imóveis omitidos. Os processos, que tramitaram entre 2016 e 2017, envolveram dívidas trabalhistas relacionadas a uma loja de móveis da qual Xaud era sócio, a Difratelli Móveis. Entre as denúncias estão atrasos salariais, ausência de pagamentos rescisórios, não recolhimento do FGTS e retenção indevida de carteiras de trabalho.
Em decorrência dessas ações, Xaud precisou desembolsar ao menos R$ 24 mil em acordos judiciais para conseguir a liberação dos imóveis. Em nota sobre os processos, ele afirmou “desconhecer qualquer processo trabalhista em que tenha descumprido obrigações legais ou decisões judiciais” e garantiu que sempre atuou “de forma regular, cumprindo integralmente seus deveres legais, fiscais e trabalhistas”.
Da política ao futebol: uma trajetória marcada por polêmicas
Samir Xaud, de 41 anos, foi eleito presidente da CBF no último domingo (25), em uma eleição boicotada por clubes da elite do futebol brasileiro, como protesto contra a dominância das federações estaduais na escolha do mandatário. Ele assumiu o comando da entidade após o afastamento de Ednaldo Rodrigues, no dia 15.

Antes de alcançar o topo do futebol nacional, Xaud tentou, sem sucesso, ingressar na política. Em 2018, se candidatou a deputado estadual pelo PV, recebendo 2.069 votos. Quatro anos depois, tentou uma vaga na Câmara Federal pelo MDB, obtendo 4.816 votos, tornando-se suplente.
A revelação sobre a ocultação patrimonial e os processos trabalhistas reacende o debate sobre a necessidade de maior rigor na fiscalização das declarações de bens de candidatos e dirigentes de entidades esportivas — especialmente quando ocupam cargos com potencial impacto sobre a gestão de recursos públicos e privados de grande relevância, como no caso da CBF.