Após Zambelli e Eduardo, fuga de Bolsonaro é só questão de tempo?

Uma possível fuga de Bolsonaro está no radar da Polícia Federal e do STF - Arte: Reprodução/Redes Sociais

Brasília — A mais recente fuga internacional da deputada Carla Zambelli (PL-SP) reacendeu o debate sobre o futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro. O roteiro parece já escrito: com Eduardo Bolsonaro exilado informalmente nos Estados Unidos e Zambelli agora instalada na Europa, resta a pergunta que muitos evitam vocalizar, mas que paira sobre Brasília — seria Bolsonaro o próximo?

A lógica é simples. O Supremo Tribunal Federal (STF), na figura do ministro Alexandre de Moraes, apreendeu e posteriormente devolveu o passaporte de Zambelli, entendendo que, apesar de condenada a 10 anos de prisão por fraudar o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ela ainda estava no pleno exercício do mandato e não respondia formalmente por tentativa de golpe. Diferente de Bolsonaro, que já acumula uma coleção de denúncias que incluem, entre outras, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Zambelli, contudo, não esperou ser presa. Discretamente, cruzou a fronteira rumo à Argentina e, de lá, embarcou para os Estados Unidos, onde permaneceu até ontem. De solo americano, anunciou seu destino final: Itália, onde pretende se fixar, escudada por sua cidadania europeia. Lá, promete denunciar o que ela classifica como “a ditadura brasileira”, instaurada após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ironia das ironias: a mesma Zambelli que, em vídeo icônico de 2022, incitou militares a um golpe contra a democracia, agora alega que o Brasil é uma nação sem liberdade de expressão e dominada pelo comunismo. Seu discurso ecoa entre setores da extrema-direita europeia, onde busca refúgio e protagonismo político.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro segue pressionando aliados de Donald Trump para retaliar o ministro Moraes e dificultar a governabilidade de Lula. O filho “03” do ex-presidente articula nos bastidores, já mirando 2026: quer a benção do pai para disputar a sucessão presidencial ou, no mínimo, uma vaga no Senado.

Mas há nuances importantes. Eduardo, com seu trânsito fluente no terceiro escalão do trumpismo global, pode até manter sua relevância política. Já Zambelli, a “pistoleira” de 2022 — cujo episódio armado no centro de São Paulo ainda ressoa como símbolo do caos bolsonarista —, dificilmente terá espaço para seguir na carreira política. Bolsonaro, inclusive, sempre a tratou com desprezo e, segundo relatos, culpa-a diretamente pela derrota nas eleições.

A possível fuga de Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

O bolsonarismo, pragmático e cruel, não chorará por Zambelli. Já o Supremo Tribunal Federal, este sim, deve manter atenção redobrada. A debandada bolsonarista — ou fuga, para usar o termo que mais assusta Brasília — parece ganhar novos capítulos. Bolsonaro, afinal, repetiu exaustivamente: “não serei preso, não sobreviveria à prisão”.

Diante da debandada silenciosa e articulada de seus aliados mais próximos, a fuga de Bolsonaro parece, mais do que uma possibilidade, uma previsão. Não causará surpresa a ninguém, salvo ao Supremo, caso venha a se concretizar.