Entenda o stand-up ‘Perturbador’, show que levou Leo Lins a ser condenado a mais de 8 anos de prisão

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O humorista Leo Lins foi condenado, nesta semana, a 8 anos e 3 meses de prisão por declarações consideradas discriminatórias, feitas no show “Perturbador”, lançado em 2022. O espetáculo, que acumulava mais de 3,3 milhões de visualizações, foi removido do YouTube em 2023, mas continua circulando em canais alternativos.

A condenação, no entanto, dividiu opiniões e levantou um intenso debate sobre os limites da liberdade de expressão e da liberdade artística no Brasil. Nomes como Antonio Tabet, Mauricio Meirelles e Fabio Rabin saíram em defesa de Leo Lins, enquanto a defesa do humorista afirmou que a decisão judicial “levanta sérias preocupações” quanto à censura.

Por outro lado, a Justiça entendeu que o alcance da apresentação, amplificado pelas redes sociais, e a quantidade de grupos sociais atingidos – incluindo pessoas com deficiência, negros, idosos, obesos, LGBTQIA+, cristãos, indígenas, nordestinos e judeus – justificavam a condenação com agravantes.

Logo na abertura do espetáculo, Lins relembra piadas que causaram polêmica anteriormente e apresenta seu “livro do humor negro”, que, segundo ele, foi recusado por várias editoras. Entre as falas polêmicas, ele dispara: “Esse livro ouviu mais ‘não’ que um estuprador”, arrancando risadas da plateia.

Em seguida, o humorista afirma que seu show é “inclusivo”, pois faz piadas com “todos e tudo”. Em tom de deboche, declara ter contratado um intérprete de libras “só para ofender surdo-mudo”, parodiando a fala de pessoas com deficiência auditiva e comparando-a ao personagem Chewbacca, de Star Wars.

Ainda durante a apresentação, Lins ironiza regiões do Brasil, afirma que no Norte “não há civilização” e que cidades nordestinas são tão pobres que “recebem ajuda humanitária da Somália”. Piadas com tragédias também foram feitas, como o incêndio da Boate Kiss e o rompimento da barragem em Brumadinho.

Um dos blocos mais controversos envolve piadas sobre gordofobia e HIV. O humorista diz que “os gordos causam mais problemas do que sofrem” e sugere que “emagrecer pegando HIV” seria uma solução.

O show ainda inclui “charadas” abordando crimes brutais, como o caso do ex-goleiro Bruno e Elize Matsunaga, além de violência contra LGBTQIA+ promovida por grupos extremistas.

Em outro trecho, Lins ironiza a Igreja Católica ao fazer uma piada envolvendo comunhão e relações com menores: “Para mim, uísque tem que ser igual mulher: puro e com 12 anos”, afirmando depois: “Vocês acham que eu sou o Caetano Veloso?”, em referência à relação do cantor com Paula Lavigne.

O humorista encerra o espetáculo falando sobre o “ranking de privilégios” na sociedade, afirmando que “um velho, gordo, nordestino e deficiente virou presidente”, numa referência direta a Lula. Na sequência, também ironiza o ex-presidente Jair Bolsonaro, chamando-o de “deficiente mental”.

Em tom provocativo, Lins conclui: “Liberdade demais dá problema”, criticando o que considera uma cultura de censura.

Apesar da reação calorosa da plateia, o Judiciário viu nas falas de Leo Lins a propagação sistemática de discursos discriminatórios. Por isso, além da sentença, a Justiça reforçou a necessidade de combater conteúdos que possam reforçar preconceitos e ofensas a grupos vulneráveis.

Atualmente, o humorista permanece em liberdade, mas enfrenta um cenário jurídico desafiador e polarização intensa nas redes sociais, onde o debate sobre os limites do humor e da liberdade de expressão está mais acirrado do que nunca.