O programa nuclear do Irã, frequentemente alvo de tensão internacional, teve início nos anos 1950 — com apoio direto dos Estados Unidos. À época, o governo iraniano alegava que o objetivo era exclusivamente pacífico. Contudo, décadas depois, a narrativa mudou drasticamente, e hoje o país é acusado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de não cumprir suas obrigações no Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares há pelo menos cinco anos.
Segundo a AIEA, o Irã tem violado os compromissos firmados no acordo nuclear de 2015, no qual se comprometia a restringir o enriquecimento de urânio e permitir inspeções internacionais rigorosas em troca da suspensão de sanções econômicas impostas por EUA e União Europeia.
Principais instalações nucleares e impacto dos bombardeios israelenses
As principais instalações de enriquecimento de urânio do Irã estão localizadas em Natanz, Fordow e Isfahan. Após os recentes ataques aéreos de Israel na quinta-feira (12), analistas questionam se as ações foram eficazes para deter o avanço nuclear do país. Para o professor Matthew Bunn, especialista em Política Internacional da Universidade de Harvard, os bombardeios foram insuficientes para frear o programa:
“Acredito que o risco de o Irã desenvolver armas nucleares nos próximos dez anos seja hoje maior do que antes dos ataques”, afirma Bunn.
O temor agora é que o Irã intensifique seus investimentos em instalações nucleares subterrâneas ainda mais profundas, tornando futuros ataques mais difíceis e menos eficazes.
Conselho de Segurança da ONU debate tensão entre Irã e Israel
Diante da escalada, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu na tarde de sexta-feira (13) para discutir o confronto entre Israel e Irã. Durante o encontro, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, reforçou que ataques a instalações nucleares são proibidos pela Convenção de Genebra, embora tenha classificado os danos até o momento como “moderados”.
Grossi também reiterou que, desde 2019, o Irã vem descumprindo integralmente o acordo nuclear internacional, o que levanta sérias preocupações sobre a real natureza do programa.
Do apoio americano à Revolução Islâmica: a trajetória do programa nuclear iraniano
O programa iraniano começou sob o regime do xá Reza Pahlavi, com apoio e tecnologia dos EUA. No entanto, após a Revolução Islâmica de 1979, que instaurou o regime dos aiatolás, a política externa iraniana assumiu um viés ideológico mais radical, com retórica anti-Israel e antiamericana.
A virada veio em 2002, quando dissidentes revelaram a existência de duas usinas nucleares secretas — Natanz e Arak. A revelação provocou forte pressão internacional, levando o Irã a suspender temporariamente seu programa e aceitar inspeções da AIEA.
O acordo nuclear de 2015 e a ruptura dos EUA
Firmado em 2015 entre o Irã e as potências ocidentais, o acordo nuclear previa limites ao enriquecimento de urânio até 2030 e acesso irrestrito da AIEA às instalações iranianas. Em troca, sanções econômicas foram suspensas. No entanto, o tratado previa que, após esse prazo, o Irã poderia voltar a enriquecer urânio sem restrições — ponto considerado crítico por vários analistas.
Em 2018, o então presidente Donald Trump usou esse argumento para retirar os Estados Unidos do acordo, reimpondo sanções e reacendendo as tensões. Já o atual presidente, Joe Biden, assim como o próprio Trump recentemente, tentou negociar um novo pacto que impedisse indefinidamente a produção de armas nucleares pelo Irã.
Israel justifica ataque como ação preventiva contra bomba nuclear iraniana
O recente ataque de Israel foi justificado como uma ação preventiva, diante do temor de que o Irã estivesse próximo de fabricar uma bomba atômica. Segundo autoridades israelenses, a janela para impedir esse avanço está se fechando rapidamente.