Empresário critica sistema brasileiro e compara ambiente de negócios com EUA e Europa
O empresário Ricardo Faria, de 50 anos, controlador da multinacional Global Eggs e apontado como um dos homens mais ricos do Brasil, fez duras críticas ao cenário econômico e social do país. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele classificou o ambiente para empreender no Brasil como um verdadeiro “desastre” — e apontou o programa Bolsa Família como um dos entraves à contratação de trabalhadores.
“Está impossível contratar no Brasil. As pessoas estão viciadas no Bolsa Família. Não conseguimos sequer treiná-las para oferecer uma vida melhor. Estão presas ao programa”, afirmou.
Bilionário da avicultura e crítico ferrenho do sistema
Responsável por produzir mais de 13 bilhões de ovos por ano, Faria comanda uma holding sediada em Luxemburgo com operações no Brasil (Granja Faria), na Espanha (Hevo Group) e nos Estados Unidos (Hillandale Farms). Sua ascensão meteórica no mercado é atribuída, segundo ele, a uma cultura de meritocracia agressiva e aquisições mensais de empresas.
Em tom ácido, ele comparou o ato de empreender no Brasil a “remar uma canoa contra a correnteza, desviando de árvores caídas, cobras e jacarés”. Já na Europa, descreve o cenário como um lago calmo, enquanto nos Estados Unidos tudo flui como um rio morro abaixo: “Lá você abre uma empresa em duas horas e contrata em minutos. Aqui, o Estado atrapalha tudo.”
Reforma trabalhista, tributação e “Estado inchado”
Ricardo Faria se mostra descrente com as reformas trabalhistas implementadas no Brasil e denuncia retrocessos na Justiça. Segundo ele, “podem todos os deputados e senadores aprovarem uma lei, o presidente sancionar, e ainda assim um juiz invalidar tudo. Nosso voto não vale nada”.

Ele também atacou a alta carga tributária, os juros exorbitantes e a burocracia paralisante como fatores que tornam o Brasil menos competitivo no cenário global. “Quando o Estado tem um problema, ao invés de cortar custos, ele aumenta impostos. É insustentável”, disse.
Hoje, Faria vive no Uruguai, onde mantém sua residência fiscal, e revelou que 80% de seus negócios estão fora do país. Ele nega que tenha saído por causa de Fernando Haddad ou da nova taxação para milionários: “Quis crescer. Quis acesso a mercados maiores. Era uma questão estratégica.”
Relação com a política: nem perto, nem longe
Apesar de afirmar que sua empresa não faz negócios com o governo, o empresário é conhecido por apoiar candidatos liberais e de direita, como Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Ele defende que o setor privado deve manter um equilíbrio na relação com a classe política: “Nem muito perto, nem muito longe. O lobby é legalizado nos EUA, aqui tudo é tabu.”
Sobre a polarização política no país, foi direto: “Está atrapalhando tudo. Rico contra pobre, Lula contra Bolsonaro… Ninguém discute o que importa: como resolver os problemas do povo.”
Críticas ao preço do ovo e resposta a Lula
Recentemente, o aumento no preço do ovo virou assunto nacional. O presidente Lula chegou a dizer que queria “encontrar o pilantra” que elevou os preços. Faria reagiu com frieza: “É falta de assunto. A alta foi momentânea, causada pelo calor excessivo e mortalidade de aves. Hoje o preço já voltou ao normal.”

Ele lembrou que o Brasil perdeu cerca de 3% do plantel de galinhas naquele período, e que o consumo tradicionalmente cresce durante a Quaresma. “A taxa de juro não está do jeito que está por causa do ovo”, ironizou.
Concorrência e expansão internacional
Questionado sobre a entrada da JBS no mercado de ovos com a aquisição de 50% da Mantiqueira, sua maior concorrente, Faria respondeu com elegância: “Admiro meu concorrente. Ele nos obriga a ser melhores.”
Sua última aquisição internacional ocorreu no auge da gripe aviária nos EUA, que matou mais de 50 milhões de aves. Enquanto isso, o Brasil, segundo ele, sofreu perdas mínimas — apenas 16 mil aves —, reforçando a “fortaleza sanitária” da avicultura nacional.
Natural de Niterói (RJ), Ricardo Faria cresceu em Santa Catarina, estudou agronomia na UFRGS e fez formação executiva em Harvard. É ex-fundador da Lavebrás, vendida ao grupo francês Elis. Seu cotidiano inclui acordar às 4h da manhã, praticar esportes e adquirir uma nova empresa a cada mês.