Eleição 2026 : Promessa de um Novo Porto Público: Entre o Passado e a Eleição de 2026

Arte: Blog do Pávulo

Por JG

A eleição de 2026 no Amazonas já começa a ser pavimentada com promessas e fantasmas do passado. Um dos temas que ressurgem no debate político é o futuro do porto de Manaus, privatizado em meio a controvérsias, e agora alvo de uma narrativa revisionista: a promessa de um “novo porto público”, moderno, eficiente e — sobretudo — sob controle estadual ou federal.

A questão portuária de Manaus é histórica e estratégica. A cidade, isolada por rios e florestas, depende do porto como artéria vital para sua economia e abastecimento. Em 2023, a concessão à iniciativa privada foi vendida como solução para décadas de abandono, burocracia e ineficiência. O que se viu, no entanto, foi um modelo de exploração que atende mais aos interesses comerciais do concessionário do que às necessidades do povo e da cidade.

As críticas à gestão privada se acumulam: aumento de tarifas, falta de transparência, conflitos com permissionários e caminhoneiros, além da ausência de investimentos prometidos. Tudo isso virou combustível para a retórica dos pré-candidatos ao governo e à prefeitura.

No palanque antecipado de 2026, a promessa de construir um novo porto público — seja em Iranduba, na Ponta Negra, centro histórico de Manaus,ou em área a ser “estudada” — aparece como resposta salvadora. Uma forma de “devolver ao povo” o que lhe foi tirado sem consulta. Um projeto de grande apelo popular, mas cuja viabilidade técnica, ambiental e orçamentária ainda é uma incógnita.

A verdade é que a ideia do novo porto, embora sedutora, é mais política do que prática neste momento. Em um estado onde falta infraestrutura básica em muitos municípios, falar em erguer um megaprojeto logístico soa, no mínimo, eleitoreiro. Não há plano diretor, não há estudo de impacto, tampouco licenciamento ambiental em curso. Há, sim, uma narrativa sendo construída — e repetida — nos bastidores e nos discursos de quem almeja o poder.

 

No centro desse tabuleiro estão os interesses empresariais, os grupos políticos tradicionais e os emergentes — todos de olho nas oportunidades que um novo porto pode representar: contratos bilionários, empregos temporários, dividendos eleitorais e influência sobre a cadeia logística amazônica.

 

O eleitor manauara, cansado de promessas que evaporam com a chuva do inverno amazônico, já viu esse filme antes: o da infraestrutura usada como moeda de campanha. O desafio será separar o que é projeto real do que é apenas miragem de palanque.

 

A eleição de 2026 promete ser uma disputa de símbolos. O novo porto público, se não sair do papel, ao menos já ganhou status de metáfora: a metáfora de um Amazonas que quer ser dono do seu próprio destino — ainda que sob as correntes da retórica.