Putin chama ataque dos EUA ao Irã de ‘injustificado’, mas evita oferecer ajuda militar direta a Teerã

O presidente russo, Vladimir Putin, cumprimenta o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, durante reunião no Kremlin, em Moscou, em 23 de junho de 2025 — Foto: Alexander Kazakov / Pool / AFP

Em um momento de alta tensão no Oriente Médio, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou como “agressão não provocada” os recentes bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. A declaração foi feita nesta segunda-feira (24), durante uma reunião com o chanceler iraniano Abbas Araghchi, que viajou a Moscou em busca de apoio diante da escalada do conflito com Washington.

No entanto, apesar das palavras duras, Putin não ofereceu nenhum apoio militar concreto ao regime iraniano, seu principal aliado na região. Em vez disso, reiterou que Moscou está “mobilizando esforços para prestar assistência ao povo iraniano” — sem detalhar ações específicas.

Moscou evita compromisso direto com Teerã

O Kremlin, embora tenha condenado os ataques americanos, tem mantido uma postura cautelosa. Putin evitou citar diretamente os EUA e preferiu generalizar suas críticas ao aumento das tensões regionais. Segundo a agência oficial iraniana Irna, o encontro teve como foco “a situação regional e internacional” após os ataques realizados no sábado (22), que atingiram as centrais nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan.

Quando questionado sobre qual tipo de apoio a Rússia estaria disposta a fornecer, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “tudo dependerá do que Teerã solicitar”. Até o momento, porém, o Irã não fez pedidos formais de assistência militar, e Moscou continua oferecendo apenas “mediação diplomática”.

Relação estratégica, mas sem pacto de defesa

Embora os dois países tenham assinado um tratado de parceria estratégica em janeiro deste ano, Putin minimizou seu alcance ao afirmar que o acordo não prevê obrigações de defesa mútua, como ocorre em alianças militares formais. Isso explica por que, mesmo após o início da ofensiva israelense contra o território iraniano no dia 13 de junho, a Rússia não prestou ajuda militar direta.

Em paralelo à reunião com Araghchi, Putin também conversou por telefone com o primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shina al-Sudani, para discutir o impacto geopolítico e energético da crise — sinalizando que o foco russo também está nos riscos aos mercados de petróleo e gás.

China se posiciona com mais firmeza

Diferente da Rússia, a China emitiu um alerta contundente, nesta segunda, sobre o risco de “propagação” do conflito entre Irã e Israel, principalmente após a entrada direta dos EUA no cenário bélico. O governo de Xi Jinping criticou frontalmente os ataques americanos, acusando Washington de violar a Carta da ONU e agravar a instabilidade regional.

O presidente iraniano visitante Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão do presidente chinês Xi Jinping antes de seu encontro no Grande Salão do Povo em Pequim, em 14 de fevereiro de 2023. (Yan Yan/Xinhua)

O jornal estatal Global Times foi ainda mais incisivo, afirmando que o uso de bombas anti-bunker pelos EUA “pode levar o confronto a um estado incontrolável”. Ainda assim, Pequim não ofereceu apoio militar ou econômico prático a Teerã, limitando-se ao discurso diplomático.

Estreito de Ormuz em risco

Internamente, o Parlamento iraniano já aprovou a proposta de fechamento do Estreito de Ormuz, rota responsável por 20% do tráfego global de petróleo. Contudo, a medida ainda depende do aval do aiatolá Ali Khamenei. Em resposta, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, pediu que a China use sua influência sobre o Irã para impedir o bloqueio, classificando a possibilidade como “suicídio econômico”.

Estreito de Ormuz Arte: Reprodução

Especialistas preveem que uma interrupção no Estreito poderia elevar os preços do barril para acima dos US$ 120, pressionando as economias globais — inclusive a da China, embora analistas apontem que Pequim possui reservas estratégicas de petróleo e fontes alternativas, como a Rússia.

Isolado, Irã promete retaliação

O chanceler Abbas Araghchi afirmou que o Irã não recuará diante da agressão americana e que “todas as opções estão na mesa para defender a soberania, os interesses e o povo iraniano”. Fontes iranianas relataram à Reuters que Araghchi entregou uma carta pessoal do aiatolá Khamenei a Putin, na tentativa de obter um compromisso mais firme do Kremlin.

Enquanto isso, o presidente Trump reforça o tom bélico e pressiona aliados — e adversários — em um xadrez geopolítico que pode transformar o Oriente Médio em um novo epicentro global de instabilidade.