Maquiagem com dinheiro público? Erika Hilton contrata maquiadores como assessores na Câmara e causa polêmica

Ronaldo Hass maqueia a deputada Erika Hilton em foto divulgada por ele em 26 de julho de 2024 - Reprodução Instagram

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) virou centro de mais uma controvérsia em Brasília. Desta vez, a parlamentar foi acusada de usar seu gabinete como vitrine de vaidade. Dois assessores que integram oficialmente sua equipe na Câmara dos Deputados são, na verdade, maquiadores — que seguem atendendo a deputada fora da rotina política, mas pagos com dinheiro público.

De maquiadores a assessores parlamentares

Os contratados são Ronaldo Hass e Indy Montiel, ambos conhecidos no meio artístico como profissionais de beleza. Os dois já divulgaram diversas fotos e vídeos maquiando Erika Hilton em eventos públicos e ensaios fotográficos — inclusive durante compromissos oficiais. Ambos estão nomeados como secretários parlamentares, com salários que, somados, passam dos R$ 11 mil mensais pagos com verba pública.

De acordo com registros da Câmara, Ronaldo ocupa cargo com remuneração de R$ 9.700, enquanto Indy recebe cerca de R$ 2.100. As nomeações constam no Portal da Transparência.

A justificativa da deputada

Erika não nega a relação profissional com os maquiadores. Pelo contrário, confirma que os conheceu maquiando e, segundo ela, percebeu “outros talentos”. “Quando podem, fazem minha maquiagem e eu os credito por isso. Mas se não fizessem, continuariam sendo meus secretários parlamentares”, declarou em tom defensivo nas redes sociais.

Segundo a deputada, ambos cumprem funções técnicas no gabinete, como relatórios e acompanhamento de pautas LGBTQIA+. No entanto, nos bastidores, o caso levanta questionamentos: maquiadores estão realmente aptos para articulação política, produção legislativa e assessoria parlamentar qualificada?

Acusações de perseguição

Diante da repercussão negativa, Erika afirmou estar sendo vítima de perseguição transfóbica, por ser uma das primeiras parlamentares trans da história do Congresso. “Existe uma tentativa de deslegitimar minha atuação”, disse. O argumento reacendeu o debate: até que ponto a representatividade pode ser escudo para blindar má gestão ou decisões questionáveis com recursos públicos?

O outro lado: redes sociais em foco

Ambos os assessores seguem promovendo seus serviços como maquiadores em suas redes, com Erika como modelo frequente. Em fevereiro, por exemplo, Hass publicou imagens de uma produção feita para um ensaio com a escola de samba Paraíso do Tuiuti. Já em maio, Indy foi responsável pela maquiagem da deputada durante cerimônia em que recebeu a Ordem do Rio Branco.

Assessor de Erika Hilton, Ronaldo Hass, mostra a maquiagem que fez na deputada para ensaio de escola de samba em publicação de 27 de maio deste ano – Reprodução Instagram

As datas coincidem com os registros de atuação parlamentar de ambos, o que levanta a questão: é possível conciliar assessoria parlamentar com atividades comerciais ligadas à imagem pessoal da deputada?

O que diz a lei?

Legalmente, não há impedimento objetivo para a contratação de assessores com formações diversas. O problema, porém, recai sobre o princípio da impessoalidade na administração pública. Especialistas lembram que, embora a prática não seja tecnicamente ilegal, ela desafia o bom senso e pode ser interpretada como desvio de finalidade.

Enquanto Erika Hilton tenta se defender com o discurso de diversidade e inclusão, a polêmica levanta uma pergunta inevitável: estamos diante de mais um caso em que a nobre função pública se transforma em palco de vaidade e favorecimento pessoal?