Produtores relatam perdas milionárias enquanto frutas e verduras ficam nos pés; fazendeiros alertam para impacto imediato nos preços dos alimentos e na economia agrícola dos EUA.
“Se 70 % dos trabalhadores somem, 70 % da safra fica no campo e estraga em um dia.” A frase de Lisa Tate, sexta geração de agricultores no condado de Ventura (Califórnia), sintetiza o drama que toma conta das fazendas norte‑americanas desde as recentes operações do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), reforçadas pela política migratória do ex‑presidente Donald Trump.
Efeito dominó nas lavouras
Primeiro desapareceram os colhedores de morango; depois, equipes inteiras de verduras e frutas seguiram o mesmo caminho. Supervisores que antes comandavam 300 trabalhadores agora mal formam grupos de 80 pessoas. Em plantações vizinhas, a força de trabalho caiu de 80 para 17. O resultado é visível: morangos, pimentões e abacates apodrecem em plena alta temporada.
Mão de obra insubstituível
Economistas estimam que 80 % dos trabalhadores agrícolas dos EUA são estrangeiros e quase metade está em situação irregular. A perda repentina dessa mão de obra, alerta o ex‑diretor do Escritório de Orçamento do Congresso Douglas Holtz‑Eakin, provoca ruptura na cadeia de abastecimento, encarece alimentos e ameaça a competitividade do setor agrícola — responsável por quase US$ 60 bilhões em 2023 só na Califórnia.
Medo diário no campo
Entre os imigrantes, o pânico domina. “Se a gente sai para trabalhar, não sabe se volta para ver a família”, confessa um trabalhador mexicano com 30 anos de lavoura nos EUA. Muitos só retornam alguns dias após as batidas porque não têm outra fonte de renda. Outros optam por pegar carona com colegas em situação regular ou mandam os filhos — cidadãos norte‑americanos — às compras para evitar exposição.

Impacto político
Em suas redes sociais, Trump reconheceu que as ações estão “tirando trabalhadores muito bons e de longa data” das fazendas e hotéis, tornando “praticamente impossível” repor esses postos. Apesar da promessa de emitir uma ordem executiva para mitigar o problema, nenhuma medida foi oficializada até agora.
Consequências à vista
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Perdas econômicas imediatas: frutas e vegetais perecíveis ficam nos campos, comprometendo contratos com supermercados e indústrias.
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Inflação nos alimentos: menor oferta eleva preços ao consumidor em todo o país.
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Fechamento de fazendas: produtores já operam no limite; sem colheita, muitos podem ir à falência.
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Pressão sobre políticas migratórias: a crise reacende o debate sobre programas de visto temporário e regularização de trabalhadores essenciais.
Por que importa?
A escassez de trabalhadores imigrantes ameaça não só a rentabilidade das fazendas californianas, mas também a mesa do consumidor global — inclusive brasileiro — que depende das exportações de frutas e nozes dos EUA. Se nada mudar, o custo do seu smoothie matinal ou da salada do almoço pode subir mais rápido do que se imagina.