A calma de um Buda diante dos talibãs no Paquistão

O Buda de Swat, esculpido em uma falésia desta região do leste do Paquistão, em 26 de abril de 2018 #Manaus #Amazonas

O Buda de Swat, esculpido em uma falésia no século VII, foi desfigurado por dinamite em 2007, mas diferentemente das estátuas gigantes de Bamiyan, no Afeganistão, foi restaurado e se tornou um símbolo de tolerância neste vale paquistanês traumatizado por anos de domínio talibã.

A divindade, sentada em posição de lótus na parte baixa de uma falésia de granito no norte de Paquistão, esteve a ponto de ser destruída completamente por insurgentes islamitas.

Jahanabad é o núcleo da herança budista do magnífico vale de Swat, nos contrafortes do Himalaia, com centenas de lugares arqueológicos e novas descobertas a cada ano.

Em setembro de 2007, seis anos depois de Bamiyan, talibãs paquistaneses escalaram a efígie de seis metros de altura para colocar explosivos, desfigurando-a.

Este episódio marcou o começo da ocupação do vale pelos talibãs, que terminou em 2009 com uma intervenção do exército paquistanês, após deixar milhares de mortos e mais de 1,5 milhão de deslocados.

Os talibãs também tentaram assassinar, em 2012, a jovem prêmio Nobel da Paz Malala Yusafzai, natural de Swat e atualmente refugiada no Reino Unido com sua família.

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Assim como seus homólogos afegãos, os insurgentes talibãs paquistaneses são extremistas que aterrorizam a população em nome de uma visão rigorista do islã que proíbe as representações artísticas e se opõe a qualquer passado não islâmico.

– “Como se matassem meu pai!” –

Para Parvesh Shaheen, de 79 anos, especialista de budismo em Swat, ver os danos causados ao Buda foi impactante: “É como se tivessem matado meu pai!”, conta à AFP. Em sua opinião, a estátua é “um símbolo de paz, de amor”. “Não odiamos ninguém, nem nenhuma religião”.

Outros habitantes locais aplaudem, por outro lado, o ato dos talibãs, por acreditarem que a escultura é “anti-islâmica”.

Swat não foi sempre povoado por muçulmanos majoritariamente conservadores, nem se via no vale tantas mulheres com burca.

Durante séculos foi um lugar de peregrinação para budistas, sobretudo do Himalaia, que o consideram uma “terra santa”.

A partir do começo do século XX, as visitas registraram uma queda, devido à impossibilidade de cruzar muitas fronteiras, e com a criação do Paquistão, em 1947, a situação se complicou ainda mais.

Atualmente, a população de Swat é sobretudo muçulmana, e as minorias (essencialmente cristãos e hindus) sofrem discriminações e violência.

O budismo desapareceu da região por volta do século X, expulso pelo hinduísmo. Sua idade de ouro foi do século II ao IV, quando no vale havia mais de 1.000 monastérios, santuários e estupas.

“A paisagem era venerada”, afirma Luca Maria Olivieri, arqueólogo italiano que supervisionou a restauração do Buda em Jahanabad. “Os peregrinos eram acolhidos por estas imagens protetoras (esculturas e inscrições)”.

A restauração do lugar começou em 2012, com a aplicação de um revestimento destinado a proteger temporariamente a parte danificada da escultura. A reconstituição do “volume que faltava” do rosto foi feita em três dimensões em laboratório, com a ajuda de amostras e fotografias antigas.

A estátua não foi reconstruída como era antes, para que se veja que sofreu danos, explica Olivieri.

– Turismo religioso –

A missão arqueológica italiana que ele dirige está presente no vale de Swat desde 1955.

As autoridades paquistaneses esperam que o sorriso do Buda de Jahanabad e seu status de “ícone” entre os budistas da China, Coreia do Sul, Tailândia e Butão fomentem o turismo religioso na região, apesar dos problemas de segurança.

Alguns habitantes de Swat consideram o Buda um instrumento para a promoção da tolerância religiosa.