Agente diz em depoimento que PF tinha sistema de grampos paralelo

Polícia Federal

Em depoimento à Justiça de SP, Rodrigo Prado afirmou que investigadores usaram equipamento não “homologado”

O agente da Polícia Federal Rodrigo Prado, que atuou junto à operação Lava Jato de Curitiba, afirmou que investigadores da corporação utilizaram um sistema paralelo de interceptação telefônica, cujo funcionamento ainda não tinha sido homologado. Diz não se lembrar, por outro lado, se esse equipamento foi usado para investigações relacionadas à operação.

A declaração consta em um depoimento dado em 31 de maio deste ano ao juiz federal Victorio Giuzio Neto, de São Paulo. O termo do depoimento foi enviado na 5ª feira (24.jun.2021) pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), na ação em que o petista teve garantido o acesso a conversas hackeadas entre procuradores da Lava Jato de Curitiba e o ex-juiz Sergio Moro. A defesa do ex-presidente afirma que a existência do sistema é ilegal.

Prado foi apontado como o responsável por selecionar, em 2016, trechos de um grampo sem autorização judicial entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff. Na conversa, a então mandatária dizia ao petista que tinha lhe enviado papéis para uma nomeação como ministro-chefe da Casa Civil. O policial federal não disse se esse diálogo específico foi obtido por meio do sistema não oficial. Prado também seria o responsável por instalar uma escuta ilegal na cela do doleiro Alberto Youssseff em 2014.

No depoimento, o advogado Cristiano Zanin, responsável por defender o ex-presidente, pergunta a Prado se ele tem conhecimento da existência de algum sistema de interceptação telefônica para além do Guardião, equipamento oficial da PF.

“A Polícia Federal está desenvolvendo um sistema próprio de interceptação que vai fazer a mesma coisa que o sistema Guardião faz”, responde o agente.

Em seguida, Zanin pergunta se esse 2º equipamento chegou a ser usado para interceptar ligações.

“A gente sempre evitou usar esses sistema enquanto não tivesse homologado porque corria o risco de perder um áudio. Então eu não me recordo no âmbito da Lava Jato esse sistema ter sido utilizado. A gente usava para investigações menos relevantes. Investigações em que eu pudesse assumir o risco de perder uma ligação”, diz Prado.

No documento enviado ao STF, a defesa de Lula diz que a existência de um sistema que não está “homologado” é ilegal e mostra “a extensão da corrosão do Estado de Direito” durante a Lava Jato.

“A confirmação da existência de um sistema paralelo de interceptações telefônicas usado pelo Estado brasileiro —que o próprio agente diz que não está “homologado”— revela um cenário de ilegalidades de proporções inauditas”, dizem os advogados. Além de Zanin, Lula é defendido por Valeska Teixeira Martins, Maria de Lourdes Lopes, Eliakin Tatsuo e Guilherme Queiroz Gonçalves.

O depoimento foi dado no curso de uma ação em que Lula pede indenização por danos morais depois de uma conversa privada entre a ex-primeira-dama Marisa Letícia e seus netos ser divulgada.