Aliados temem “morte digital” de Bolsonaro: risco de afastamento das redes sociais antes mesmo de eventual prisão

Ex-presidente Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

O temor de uma condenação de Jair Bolsonaro (PL) no processo que apura sua participação na tentativa de golpe já se consolidou — inclusive entre seus aliados mais próximos. Contudo, um novo receio ganha força no entorno do ex-presidente: o risco de que o Supremo Tribunal Federal (STF) determine sua retirada das redes sociais, ainda que ele cumpra eventual pena em regime domiciliar.

Fontes próximas ao ex-presidente já cogitam esse cenário como uma espécie de “exílio virtual”, uma medida que poderia silenciá-lo politicamente, amputando sua principal ferramenta de influência. “Moraes criou o exílio virtual. Vão tentar silenciar Bolsonaro nas redes, matá-lo civilmente”, protestou uma pessoa próxima ao ex-presidente, com trânsito no meio jurídico.

STF já impôs “exílio digital” a outros réus

A apreensão não é infundada: medidas semelhantes foram aplicadas pelo ministro Alexandre de Moraes a outros envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Um exemplo emblemático é o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada em abril a 14 anos de prisão após pichar “Perdeu, mané” na estátua da Justiça, em frente ao STF. Ela foi sentenciada pelos mesmos crimes que pesam sobre Bolsonaro: tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Assim, a possibilidade de uma restrição semelhante a Bolsonaro é considerada plausível, sobretudo diante do agravamento da tensão entre o STF e o núcleo bolsonarista, especialmente após a abertura de inquérito contra Eduardo Bolsonaro.

Caso Eduardo Bolsonaro amplia pressão sobre o clã

O inquérito, autorizado por Moraes, investiga suspeitas de coação e articulações internacionais, incluindo aproximação com o governo de Donald Trump, para pressionar autoridades brasileiras. Bolsonaro admitiu ter financiado as despesas de Eduardo nos Estados Unidos, o que pode levá-lo a ser enquadrado como cúmplice, caso o filho venha a ser condenado.

A possibilidade de bloqueio de bens, prisão preventiva ou, principalmente, restrição do uso das redes sociais é considerada real dentro do círculo bolsonarista. Internamente, aliados avaliam que a perda dos canais digitais seria, politicamente, mais devastadora do que a própria prisão.

Redes sociais são o coração do bolsonarismo

Atualmente, Jair Bolsonaro soma 13,9 milhões de seguidores no X (antigo Twitter) e 26,6 milhões no Instagram — números que superam os do presidente Lula (PT), com 9,5 milhões e 13,2 milhões, respectivamente. Nas duas últimas campanhas presidenciais, Bolsonaro consolidou essas plataformas como suas principais armas de comunicação direta com o eleitorado e de ataque aos adversários políticos.

Por isso, eventuais restrições são vistas como uma verdadeira “morte digital” — com potencial de desarticular sua base, reduzir sua capacidade de mobilização e, principalmente, comprometer sua influência política, tanto no Brasil quanto internacionalmente.

Bolsonaro deve prestar depoimento à Polícia Federal na próxima quinta-feira (5). A expectativa no meio jurídico e político é de que, a depender do tom e conteúdo de sua oitiva, medidas cautelares como restrições digitais sejam imediatamente adotadas.