Por JG
A expectativa de uma reforma ministerial robusta em 2024, que abrisse mais espaço ao Centrão no governo Lula, arrefeceu com o tempo — e agora parece esvaziada. O que se vê não é um rompimento declarado, mas uma acomodação pragmática. O Centrão desistiu de ampliar sua presença no primeiro escalão, mas também não cogita um desembarque imediato do governo. Trata-se de uma típica estratégia de sobrevivência política: manter o que se tem, evitando riscos e, ao mesmo tempo, esperando os ventos das urnas de 2026.
Esse movimento reflete o enfraquecimento das barganhas políticas em torno de ministérios, especialmente após abril, quando muitos cargos deixaram de ser interessantes por conta do prazo de desincompatibilização para as eleições. A lógica eleitoral fala mais alto do que os interesses institucionais.
Apesar das reformas pontuais feitas por Lula — com trocas forçadas por escândalos ou crises internas —, não houve a tão esperada “reorganização ministerial” que acomodasse mais atores do Centrão. Isso frustrou expectativas de partidos como o PSD, que se ressentem de participações modestas, como a posse da pasta da Pesca.
Mesmo assim, há exemplos de resistência à ideia de deixar o governo. O senador Ciro Nogueira, por exemplo, embora tenha defendido a saída dos ministros do PP, mantém cargos e influência — inclusive novas nomeações, como na Codevasf. É um jogo de dupla face: retórica de oposição para agradar a base eleitoral, mas manutenção de influência para garantir verbas e cargos.
Lula, por sua vez, parece priorizar lealdade e controle direto sobre as pastas estratégicas, como se viu com a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais. A troca de nomes em outros ministérios decorreu mais de crises do que de articulação política.
Conclusão:
O governo Lula caminha para uma relação fria, porém funcional com o Centrão: sem novos agrados, mas também sem rupturas. Ambos sabem que, no atual cenário, manter o equilíbrio é melhor do que arriscar. O Centrão espera, observa e calcula — sem embarcar de vez, nem sair totalmente do barco.