
Os segredinhos da Operação Héstia – Operação Boca Raton
O juiz Celso de Paula, da 1ª Vara do Tribunal de Júri de Manaus, decretou, nesta segunda-feira, o sigilo do processo que investiga a morte do engenheiro Flávio Rodrigues. O juiz adotou a medida três dias após autorizar o acesso a quatro aparelhos apreendidos com a ex-primeira-dama de Manaus Elisabeth Valeiko e o genro dela Igor Ferreira em 2019.
O magistrado alegou que a decisão que autorizou o setor de inteligência do Ministério da Justiça a extrair e compartilhar com o MP-AM (Ministério Público do Amazonas) o conteúdo de três celulares e um tablet da marca Apple “pode acarretar em divulgação de dados particulares de pessoas direta ou indiretamente envolvidas neste processo”.

O acesso ao conteúdo dos quatro aparelhos foi determinado por Celso de Paula na última sexta-feira, 11. Sem citar os proprietários, o juiz sustentou que os aparelhos “precisam ter seus conteúdos expostos nos presentes autos, pois pertencem a pessoas que, embora não sejam réus no processo, são parentes próximos dos acusados”.
Ao contestar o pedido do MP, Paola Valeiko, irmã de Alejandro, alegou que os aparelhos foram apreendidos em outra investigação deflagrada em dezembro de 2019 contra Igor Ferreira e Elisabeth Valeiko. Para ela, o acesso ao conteúdo dos celulares “viola a intimidade de terceiros os quais não foram indiciados e nem sequer denunciados no presente feito”.
Igor reconheceu que é um dos donos dos celulares que agora serão acessados e também alegou violação à intimidade. Ele citou que o pedido do MP ocorre 18 meses após a apreensão dos aparelhos e que nesse período “absolutamente nada” foi apurado contra ele, ou seja, não houve qualquer fato novo que justificasse o pedido.
A defesa de Igor afirmou que a Justiça já havia negado pedido para acessar o conteúdo dos mesmos aparelhos em outro processo de número 0816406-77.2020.8.04.0001, que tramita em segredo de justiça, e que só teve acesso a essa informação porque Igor é esposo de Paola e ambos compartilham os mesmos advogados.
“Bastou uma rápida análise do Procedimento nº 0816406-77.2020.8.04.0001 para esta Defesa tomar conhecimento que aqueles ‘3 (três) aparelhos Iphone e um aparelho Ipad, todas da Marca Apple’, foram apreendidos ‘dos alvos Igor Gomes Ferreira e Elizabeth Valeiko do Carmo Ribeiro’”, afirmou a defesa de Igor.
No pedido, o promotor de Justiça José Augusto Palheta Taveira Júnior citou que os aparelhos foram apreendidos no âmbito de investigação “que se relaciona à presente ação penal”. Ele sustentou ainda que a medida busca “dar celeridade de acesso aos dados extraídos para subsidiar as investigações que envolvam crimes complexos”.
Os aparelhos foram apreendidos no dia 11 de dezembro de 2019. Na época, a advogada Talita Lindoso, que compõe a defesa de Igor, afirmou que a morte do engenheiro Flávio Rodrigues havia virado um ‘palanque político’ e estava sendo usada para atingir o então prefeito Arthur Neto e a família de Alejandro.
Caso Flávio
A denúncia do MP, assinada pelo promotor de Justiça Igor Starling Peixoto, contra Alejandro Valeiko, Elizeu da Paz, Mayc Vinícius Parede, Paola Valeiko e José Edvandro Júnior narra que o corpo de Flávio Rodrigues foi encontrado no dia 3o de setembro de 2019 em uma área de mata no bairro Tarumã, na zona oeste de Manaus.
De acordo com o promotor, na noite do dia 29 de setembro, Alejandro Valeiko, José Edvandro Júnior e Elielton Magno estavam consumindo drogas e bebidas alcoólicas na casa de Valeiko, no Condomínio Passaredo, na zona oeste de Manaus, quando “ocorreram fatos no interior do imóvel”.
Por volta de 22h20, “em razão do comportamento do Alejandro no interior do imóvel”, Elizeu da Paz e Mayc Parede chegaram no condomínio em um carro Corolla, cor preta, placa PHY-8178. O documento cita que eles tiveram “autorização prévia” para entrar, mas não narra o que ocorreu no interior da residência.
Starling afirma que, às 22h30, Elielton Magno chegou ferido à guarita do condomínio e recebeu auxílio dos agentes de portaria. Às 22h33, Elizeu e Mayc saíram em alta velocidade do Condomínio Passaredo no carro Corolla. Conforme a denúncia, no banco de trás, Mayc segurava Flávio dos Santos, que estava ferido.