Gestão Arthur Neto: Manaus lidera ranking de pior cidade do Brasil para empreender

Manaus é a pior cidade do Brasil para se empreender. A avaliação é do Índice de Cidades Empreendedoras 2017 (ICE 2017), produzido pela organização Endeavor, especializada em empreendedorismo. O estudo abrangeu 32 cidades, entre capitais e municípios do interior de 22 estados.

A capital do Amazonas caiu 4 posições em relação ao ranking produzido pela Endeavor em 2016, descendo do 28º para o 32º lugar.

São Paulo e Florianópolis mantêm pelo terceiro ano consecutivo os 1º e 2º lugares do índice, respectivamente.

O estudo completo sobre 2017 vai ser divulgado nesta segunda-feira (27) durante o evento anual da Frente Nacional dos Prefeitos, em Recife (PE). Mas o jornal Valor Econômico adiantou alguns dos números presentes na pesquisa.

Desde 2014, quando a organização começou a produzir o Ranking, a nota de Manaus caiu de 5,33 para 4,944 (2016). A nota dos municípios em 2017 ainda não foi divulgada.

Da região Norte, apenas Manaus e Belém (PA) são avaliadas no estudo da Endeavor. A nota de Belém também caiu de 2014 para 2016. No entanto, no índice do ano passado, a capital paraense aparece duas posições à frente de Manaus (26º), subindo 3 posições em relação a 2015, com a nota 4,948.

Surpresa negativa

A avaliação negativa de Manaus surpreendeu o diretor executivo da FabriQ Aceleradora, Fredson Encarnação, que trabalha com startups em Manaus.

“Esse resultado me surpreende porque, nos últimos 2 anos, a cultura de inovação em Manaus vem crescendo. Ela é algo novo. Hoje, a gente está em fase de transição do ponto de vista da cultura empreendedora”, comenta.

Já para o empresário Erick Bandeira de Melo, a crise econômica colocou em evidência a dificuldade de se empreender no Amazonas. “O Amazonas nunca foi um estado com facilidades para se empreender. A crise pôs à prova essa dificuldade. O mercado encolheu, a população empobreceu e a queda nos resultados atrapalhou os investimentos”, afirma.

Parâmetros de avaliação

Sete quesitos são avaliados no ICE: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso à capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora.

Na avaliação item a item, em 2016, Manaus ficou com a última colocação em Acesso ao Capital e Infraestrutura. Além de ter ficado com o antepenúltimo lugar no fator Capital Humano.

Para Bandeira de Melo, a dificuldade logística provocada por questões geográficas é um dos motivos que contribui para a avaliação negativa sobre a infraestrutura local. Além disso, o modelo econômico do Polo Industrial de Manaus (PIM) explica a falta de mão de obra qualificada em Manaus.

“É preciso mais capacitação. E quando se tem o modelo Industrial da Zona Franca de Manaus, com a matriz econômica única, não se diversifica a capacitação. Se nós olhássemos para outras matrizes como a agricultura e a pesca profissional, por exemplo, teríamos uma diversificação. É preciso formar engenheiros, sim. Mas essa ideia de só montar produtos na Zona Franca atrapalha”, argumenta o empresário.

Fredson Encarnação afirma que a mão de obra qualificada de Manaus é absorvida pelo Polo Industrial, o que cria a sensação de que não existe capital humano na região. “Existe sim mão de obra qualificada, mas ela não está disponível para os novos negócios. Essa mão de obra vai começar a aparecer em outros empreendimentos quando esses novos negócios ganharem destaque por estar dando certo”, explica o especialista, que confia em um boom de negócios dentro de até 2 anos.

Burocracia, impostos e falta de incentivos

O processo para a criação de um novo negócio melhorou nos últimos anos, mas ainda há muito que caminhar, avalia Fredson. “Em algumas cidades como Recife, Porto Alegre e São Paulo existem incentivos para tipos de negócios com potencial. São dados benefícios fiscais para quem empreende. Então, além de ser rápido abrir a empresa, você paga menos tributos”, comenta.

Segundo o ICE 2016, em Manaus, o tempo médio de abertura de uma empresa é 66 dias e o tempo para regularização de um imóvel é 171 dias. Em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, em média, o empreendedor leva 52 dias para abrir seu negócio. Enquanto em são Paulo um imóvel é regularizado em 94 dias.

Outro fator que torna Manaus uma das cidades com piores condições para se empreender é a tributação financeira. “Nós tivemos aumentos na carga tributária, 2 aumentos no ICMS este ano, por exemplo. No Amazonas nós temos uma das tributações mais caras do País e muito complexa”, afirma. O fato de a legislação que regulamenta grandes empresas também atingir os pequenos empreendedores é outro agravante da situação.

Ainda na avaliação por itens, Manaus obteve a 2ª colocação no quesito Mercado, que leva em conta o crescimento, o desenvolvimento econômico e os clientes potenciais.

Oportunidades e futuro

Uma falha vista no mercado local, segundo Bandeira de Melo, é que os empreendedores não exploram corretamente a cultura amazonense. De acordo come ele, falta a muitos compreender o próprio negócio, para então conseguir atingir o maior número de clientes.

 “O amazonense gosta da cultura dele, de comer as coisas daqui. O que não é ruim. Às vezes, o empreendedor tem uma ideia fenomenal, mas distante da população, que não entende o negócio. Falta o empreendedor regionalizar o negócio. Ele precisa enxergar isso, quando traz uma ideia de fora”, explica.

Apesar da falhas existentes, Fredson acredita que com o crescimento da cultura empreendedora, provocada por eventos sobre empreendedorismo que estão acontecendo na região, a realidade de Manaus mude. “Os jovens que estão na universidade vão colocar em prática o que estão aprendendo, na teoria, dentro das universidades”, prevê.