A atuação do ministro da Justiça, Anderson Torres, para desobstruir as estradas brasileiras está sendo vista com desconfiança por autoridades de Brasília, inclusive do Supremo Tribunal Federal (STF): ele afirmou a algumas delas que a situação era difícil e que a crise poderia escalar, dando a impressão de que não estava empenhado em resolver o problema. A pasta comanda a Polícia Rodoviária Federal (PRF), cujo diretor já está sendo inclusive investigado pelo Ministério Público Federal.
O ministro contesta. “Os bloqueios começaram logo após o término da votação, e a velocidade com que aumentaram foi assustadora. Não havia a menor possibilidade de interromper essa disparada”, afirmou Torres à coluna, em mensagem enviada por sua assessoria. Eram 27 bloqueios às 23:30 do dia 30 [domingo da eleição] e, às 01:30, já eram 134. Na noite de 31, já eram mais de 400″, segue.
Ele afirma ainda que a PRF se empenhou, sim, em desobstruir as vias. “A PRF emendou as operações do fim de semana direto já com as da segunda. Reforçamos o efetivo em mais 40% para auxiliar, mas acaba que você leva um tempo variável para desbloquear uma rodovia, a depender da complexidade do bloqueio, e, nesse meio tempo vários outros vão surgindo”, afirma.
O ministério afirma que Torres pediu, já no domingo (30) que a Polícia Federal e a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça acionasse os estados para que as Polícias Militares ajudassem no desbloqueio.
Na terça (1º), a Força Nacional foi disponibilizada, mas ela só atua caso os governos estaduais façam uma solicitação, diz a pasta. “Um detalhe interessante a ser observado também é que a PRF só pode atuar em rodovias federais. Se o bloqueio for em [uma via] estadual, cabe à PM local”, diz ainda Torres.
Sobre as cenas de confraternização entre policiais e bolsonaristas que bloqueavam as estradas, ele diz: “Cada cenário tem uma particularidade. É difícil julgar. Muitas vezes, e ainda mais quando você é minoria, criar uma empatia com os manifestantes é a melhor forma de buscar resolver a questão. Mas quando aparece um vídeo deles juntos, parece que a solução do problema não está em andamento.”
A mensagem enviada pela assessora do ministro conclui: “Quando há centenas de pessoas versus uma dezena de policiais, você tem que usar outras formas de dissuadir. Sempre deixando a força para a última opção e, mesmo assim, tem que haver uma proporção numérica considerável para ter a vantagem”.
O ministério afirma ainda que o presidente Jair Bolsonaro determinou, já na segunda, que Anderson Torres desobstruísse as rodovias, evitando, na medida do possível, “que houvesse embates”.
Mônica Bergamo/Folhapress