Bolsonaro acuado

Para salvar seu governo, Jair Bolsonaro conteve a ala ideológica, passou a ser tutelado pelos militares e tenta se conciliar com o STF e o Congresso.

A nova estratégia inclui uma agenda de inaugurações e a transformação do Bolsa Família em uma marca própria. A mudança vem após vários reveses: a prisão de Queiroz, os inquéritos no STF que ameaçam sua família, a pandemia e a recessão.

Eles fortalecem movimentos pró-democracia, como o Stop Bolsonaro, que aconteceu no dia 28 em cerca de 60 cidades e 26 países e mobilizou as redes sociais

Nos últimos dias, o Brasil está conhecendo um novo presidente. Confrontado com as ameaças crescentes ao seu governo, Jair Bolsonaro não ataca mais a imprensa, não participa de atos golpistas, prega a harmonia com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso e demonstrou até compaixão com as vítimas da Covid-19 em uma live bizarra que incluiu o presidente da Embratur como sanfoneiro. O cerco se fecha a partir dos vários inquéritos que assolam o presidente, sua família e colaboradores no STF: Fake News, atos antidemocráticos e interferência na Polícia Federal (PF). Os extremistas que rondavam a praça dos Três Poderes pregando o fechamento do Congresso e do STF foram presos. O tiro de misericórdia para mudar o humor presidencial, no entanto, foi a prisão de Fabrício Queiroz, amigo de décadas de Bolsonaro e ex-assessor de seu filho Flávio. Ele é acusado pelo Ministério Público do Rio de ser o operador de um esquema de rachadinhas liderado pelo filho na Assembleia fluminense. O escândalo, que inclui o envolvimento com milícias, levou a crise para dentro do Palácio do Planalto. Isso abateu Bolsonaro mais que qualquer adversidade enfrentada desde o início do governo.

Para proteger o clã e preservar seu mandato, o presidente mudou sua estragégia. Acabaram suas aparições diárias no “cercadinho” do Palácio do Alvorada, que geravam crises diárias. Foi uma recomendação dos militares palacianos. A ala fardada passou a mandar mais, e o núcleo ideológico, próximo dos filhos, perdeu protagonismo. Um exemplo desse movimento é a escolha do novo ministro da Educação, que passou por critérios mais técnicos e menos doutrinários, apesar da desastrada indicação avalizada pelos militares de um ex-oficial da Marinha que nem esse título tinha. Outro exemplo é a pressão pela demissão dos dois ministros ideológicos que têm causado os maiores estragos na relação com investidores e parceiros comerciais: Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). O plano é minimizar as acusações criminais e criar uma agenda positiva, imprimindo uma marca realizadora. Bolsonaro planeja recuperar a popularidade com inaugurações, que estão sendo discutidas com aliados políticos e deputados do Centrão. Uma lista com 30 rodovias, viadutos, estradas pavimentadas e pontes restauradas está sendo preparada pelo ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura). A inauguração de um trecho da transposição do rio São Francisco no Ceará, no dia 26, já fez parte desse roteiro.

Matéria completa