Bolsonaro nega incentivo ao 8 de Janeiro e chama de “malucos” os que pedem intervenção militar

Foto: Reprodução

Brasília (DF) – Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou ter incentivado os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas por manifestantes. Segundo ele, a ação não teve qualquer articulação ou estímulo de sua parte.

“Nós repudiamos tudo isso. Com todo respeito, doutor Paulo Gonet, não procede que eu tenha colaborado com o 8 de janeiro. Não há nada meu ali incentivando aquela baderna que repudiamos”, afirmou.

Durante o interrogatório conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro classificou como “malucos” os apoiadores que defendem ideias como a volta do AI-5 ou uma intervenção militar. O ex-presidente também afirmou que sempre orientou esses manifestantes a não seguirem por esse caminho.

O que é o AI-5 e por que ele foi citado no depoimento
O Ato Institucional nº 5 (AI-5), mencionado por Bolsonaro, foi decretado em 13 de dezembro de 1968, durante o regime militar, e é considerado o instrumento mais repressivo da ditadura brasileira (1964–1985), ao suspender garantias constitucionais e institucionalizar a perseguição política.

“Tem os malucos que falam em AI-5 e em intervenção militar… Os chefes das Forças Armadas jamais embarcariam nessa ideia só porque o povo estava pedindo ali”, declarou o ex-presidente ao STF.

Rejeição ao caos e defesa de “reclusão” pós-eleição
Ao ser questionado sobre os protestos que ocorreram após sua derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro destacou que não incentivou nenhuma ação ilegal e tentou evitar o caos.

“Se eu quisesse o caos, bastava me calar. Mas fiz um vídeo pedindo a desobstrução das vias. Não estimulei ninguém a praticar ilegalidades. Fiquei recluso no Palácio da Alvorada durante todo o período de transição”, afirmou.

Ainda segundo Bolsonaro, mesmo com milhares de apoiadores protestando em frente a quartéis com faixas que pediam intervenção militar e sua permanência no poder, ele não endossou as ações e sequer as convocou.

“Não convoquei protestos; deixei o povo desabafar”
Durante o interrogatório, o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, questionou Bolsonaro sobre a ausência de ações concretas para desmobilizar os acampamentos em frente aos quartéis, que representavam um ataque à ordem democrática.
Polícia Federal prende 49 envolvidos no atentado contra a democracia de 8 de janeiro de 2023 — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Em resposta, Bolsonaro disse que muitos manifestantes sequer sabiam o que estavam pedindo:

“Alguns seguravam placas com ‘AI-5’ e nem sabiam o que era. Eu perguntava: ‘Você sabe o que está escrito aí?’ Muitos não sabiam. Intervenção militar? Isso não existe. É pedir para o presidente cometer suicídio político.”

Ele argumentou que a retirada forçada dos manifestantes poderia ter gerado maior tensão:

“Se tivéssemos feito uma intervenção mais dura, o pessoal poderia ter se dirigido à Praça dos Três Poderes. Era melhor que ficassem afastados.”

Reforço político e discurso repetido: ‘Sempre dentro das quatro linhas’
Bolsonaro também aproveitou o depoimento para reforçar sua postura política durante o mandato, dizendo que sempre agiu “dentro das quatro linhas da Constituição” — uma frase que se tornou um dos bordões mais repetidos por ele desde o fim do governo.

Além disso, tentou minimizar sua responsabilidade sobre qualquer tentativa de ruptura democrática:

“Pacifiquei o máximo possível durante os dois meses de transição. Não convoquei atos, nem mesmo protestos legais.”

LEIA MAIS: