Bolsonaro troca lives de 2020 por viagens em 2024 para eleger prefeitos aliados

Principal cabo eleitoral do PL, o ex-presidente Jair Bolsonaro trocou as lives pelas ruas na tentativa de angariar votos para pré-candidatos apoiados por ele –especialmente aqueles que disputarão prefeituras nas eleições de outubro.

Em 2020, Bolsonaro não foi bem em seu primeiro teste como cabo eleitoral após ter assumido a Presidência. Naquelas eleições, o então presidente declarou adesão abertamente a 18 candidatos a prefeito, e apenas 5 se elegeram.

Bolsonaro anunciou os apoios, na maior parte, em suas lives eleitorais. À frente do governo federal, ele naturalmente tinha menos tempo disponível para viajar e fazer campanha por aliados.

Além disso, ainda que o presidente ignorasse a gravidade da pandemia da Covid, metade da população não saía de casa ou o fazia apenas em situações inevitáveis, segundo pesquisa Datafolha, o que limitava as agendas na rua.

Agora, em um cenário diferente, o ex-presidente tem ido a campo para tentar transferir votos para seus pré-candidatos —frequentemente, ele e os filhos mencionam essas eleições como uma preparação para a disputa presidencial de 2026.

Aliados dizem que a participação mais direta de Bolsonaro também é uma forma de manter seu nome em alta, como a figura de direita que mais mobiliza eleitores.

Desde o início do ano, ele já foi a mais de 20 cidades entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três principais colégios eleitorais do país.

Em março, o ex-presidente esteve em cinco cidades paulistas, onde cumpriu agenda com pré-candidatos às prefeituras de Americana, Nova Odessa, Itu, Santa Bárbara d’Oeste e Piracicaba. Em julho, foi a Santos para o lançamento da pré-candidatura da deputada federal Rosana Valle (PL) e a Praia Grande, onde se encontrou com o pré-candidato Lissandro Florencio (PL).

“O que nós queremos é uma boa base agora, em 2024, para que em 2026 nós possamos reassumir o comando do nosso Brasil”, afirmou Bolsonaro em Americana.

O deputado estadual Alex Madureira, que disputará a Prefeitura de Piracicaba pelo PL, diz que a presença do ex-presidente já rendeu frutos.

“As pessoas já estão identificando o Alex como o candidato do Bolsonaro. Isso eu ouço na rua. ‘Você que trouxe o Bolsonaro?’ ‘Foi.’ ‘Então meu voto é seu.’ Tem uma fidelização por conta do Bolsonaro”, afirma.

“A gente precisa dele, ele é uma peça fundamental. Eu falei isso para ele, ‘É inevitável e imprescindível sua participação na nossa campanha’. Pode garantir a eleição. Para o interior de São Paulo isso faz a diferença.”

Além do ex-presidente, seus filhos Flávio Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL) e Carlos Bolsonaro (PL) também têm participado de agendas. Os últimos dois lançaram ainda uma plataforma, chamada Ação Conservadora, por onde prometem atuar como uma espécie de “coach” para candidatos.

“Você irá aprender com Carlos Bolsonaro a estratégia que elegeu o Presidente Jair Bolsonaro —e melhor, poderá aplicar na sua candidatura em 2024”, afirma o site. “A presidência de 2026 dependerá das nossas ações de hoje, conquistando prefeituras, câmaras de vereadores e formando lideranças locais.”

Os irmãos agendaram para o dia 10 de agosto um encontro presencial em São Paulo. Em troca de R$ 997,90 à vista ou 12 parcelas de R$ 99,79, garantem uma “imersão completa”, networking, coffee break, certificado, sessão de fotos e acesso ao material gravado.

No último mês, com a Assembleia Legislativa de São Paulo em recesso, deputados estaduais do PL também intensificaram as viagens para apoiar pré-candidatos no interior.

O partido vê no pleito de outubro uma oportunidade para construir bases, aumentar a capilaridade com mais prefeitos eleitos e fidelizar eleitores pensando nas eleições de 2026. Além de Bolsonaro, que será o cabo eleitoral mais disputado, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) também devem cumprir esse papel.

Em maio, a direção do partido, encabeçado por Valdemar Costa Neto, chegou a avisar seus quadros que estava proibida a manifestação pública de apoio a pré-candidatos de outras siglas nas cidades em que o PL estiver na corrida. Quem desrespeitar a norma, segundo o alerta, corre o risco de responder a procedimento ético disciplinar.

Algumas figuras da legenda ponderam que, embora a direção fale sobre priorizar estas eleições, falta organização e capacidade de mobilização para fazer grandes eventos e atrair eleitores. Segundo essa leitura, o partido ainda é muito dependente do entusiasmo em torno de Bolsonaro.

Em São Paulo, a meta do PL é eleger de 100 a 150 prefeitos. Na capital, o ex-presidente embarcou na pré-candidatura do prefeito Ricardo Nunes (MDB), emplacando o ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL) para a vice.

O objetivo do partido também é consolidar o interior, com forte presença do agronegócio, como um reduto bolsonarista. Com a derrocada do PSDB, parlamentares também dizem que este é um momento propício para tentar se aproveitar do espólio e conquistar eleitores que costumavam votar nos tucanos.

Já o PT, além da capital, onde compõe a vice do psolista Guilherme Boulos, deve focar nos municípios onde já governou e tem lideranças sedimentadas, como Diadema, Guarulhos, Mauá, Osasco, Santo André e São Bernardo do Campo. Também serão priorizadas cidades onde novos líderes estão se fortalecendo, como Catanduva, Jacareí, São Carlos e Sumaré.

No último dia 20, o presidente Lula participou em São Bernardo da convenção que formalizou a pré-candidatura de Luiz Fernando (PT) a prefeito. Em seguida, esteve na capital para a convenção que lançou Boulos, com Marta Suplicy (PT) como vice. Lula participou diretamente da articulação que levou a ex-prefeita de volta ao partido, com o objetivo de compor a chapa.

Com a máquina federal para governar, o presidente não será um cabo eleitoral presente na maioria das cidades. À frente do diretório estadual do PT em São Paulo, o deputado federal Kiko Celeguim reconhece que Lula não conseguirá viajar tanto quanto Bolsonaro. “Até porque Bolsonaro só está fazendo isso da vida. O presidente está governando o país.”

Ele afirma que Lula deve concentrar as agendas nas principais capitais e, eventualmente, passar por cidades próximas. “Escala em São Bernardo, em Guarulhos, em Osasco, no entorno da capital. Se for em Campinas, pode fazer uma escala em Sumaré ou Hortolândia”, diz.

Segundo Celeguim, a meta do partido é triplicar o número de prefeituras no estado nestas eleições. Hoje são quatro: Araraquara, Diadema, Mauá e Matão.

 

Ana Luiza Albuquerque/Folhapress