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Autor da mensagem é oficial da reserva Paulo Roberto Corrêa Assis, que a PF afirma ter sido contratado em 2019 pelos mentores da fraude
Numa mensagem encontrada pela Polícia Federal durante a investigação sobre a fraude na compra de coletes balísticos pelo Gabinete de Intervenção Federal (GIF), um general do Exército afirmou a um interlocutor que o general Walter Braga Netto “prometeu interferir” para que a aquisição fosse sacramentada. O autor da mensagem é oficial da reserva Paulo Roberto Corrêa Assis, que a PF afirma ter sido contratado em 2019 pelos mentores da fraude — os irmãos Glaucio e Glauco Guerra — para “fazer lobby junto ao alto escalão do Governo” e reverter a suspensão do processo de aquisição dos coletes.
“Almocei também com o Gen Braga Netto, que me prometeu interferir a nosso favor. Por tanto, tudo bem encaminhado”, escreveu Assis. Segundo a PF, a mensagem foi enviada em 14 de dezembro de 2019. Na época, Braga Netto era chefe do Estado-Maior do Exército.
Num e-mail enviado no dia seguinte que também faz parte da investigação, Assis reforça o encontro com Braga Netto e menciona a compra dos coletes. No texto, ele revela que o general disse que “daria uma força”.
Num e-mail enviado no dia seguinte que também faz parte da investigação, Assis reforça o encontro com Braga Netto e menciona a compra dos coletes. No texto, ele revela que o general disse que “daria uma força”.
“Estive num almoço sexta-feira passada com o Gen Braga Netto e comentei sobre a liberação dos coletes de proteção balística para a Polícia do RJ. Ele disse que iria dar uma ‘força’ junto ao Sr. para atender ao que pleiteamos”, escreveu o general.
As mensagens enviadas pelo general Assis animaram os irmãos Glaucio e Glauco Guerra, apontados pela PF como mentores da fraude. “Agora o zero dois do Exército Brasileiro, que foi o interventor federal está do nosso lado, que assinou o contrato, ou vai ou não vai né?”, disse Glauco, ex-auditor fiscal, num áudio enviado ao irmão, coronel da reserva da Aeronáutica, naquele mesmo dia.
Segundo a investigação da PF, os irmãos Guerra haviam procurado o general Paulo Assis meses antes, quando o GIF anunciou a suspensão da compra dos coletes por suspeita de falsificação de um documento. Numa conversa com o irmão, Glaucio perguntou “se o General Paulo Assis foi quem denunciou eles”. O ex-auditor fiscal confirma e diz que “agora ele quer tomar um dinheiro nosso”.
Durante sua carreira militar, Paulo Assis foi adido do Exército nos Estados Unidos e também foi chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia. Já na reserva, ele foi um dos responsáveis por emplacar Hamilton Mourão como vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2018 e até fez parte do gabinete de transição do governo. Em 2019, atuava como representante da empresa Glágio do Brasil Proteção Balística, que concorreu com os irmãos no processo de aquisição dos coletes.