“Caça aos comunistas”: grupo usava garotas de programa como isca e cobrava até R$ 250 mil para espionar autoridades, revela PF

Armas do grupo de extermínio “Comando C4” foram apreendidas pela Polícia Federal. Foto: Reprodução

Em uma operação que expôs detalhes chocantes, a Polícia Federal (PF) revelou a existência de um grupo autointitulado “Comando C4” — Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos, que operava um esquema de espionagem com tarifas que chegavam a R$ 250 mil para monitorar autoridades do Judiciário.

Entre os materiais apreendidos, agentes encontraram uma tabela de preços que previa valores de R$ 150 mil para espionar senadores e até R$ 250 mil para ministros do Poder Judiciário. As atividades incluíam ainda o uso de armamento pesado, como fuzis e minas, e a contratação de garotas e garotos de programa como isca, além de disfarces e locação de imóveis.

Organização criminosa operava com hackers e armamento pesado

O grupo oferecia “serviços” variados que incluíam hackers, equipes de inteligência e operações de campo. As investigações revelam a sofisticação e a periculosidade da organização, que também mantinha arsenal pesado à disposição.

Tabela impressa encontrada com alvos da operação Sisamnes — Foto: Reprodução/ Polícia Federal

Além dos materiais bélicos, constavam na lista itens como aluguel de imóveis para vigilância, utilização de prostitutas para armadilhas e operações de reconhecimento, reforçando o caráter altamente profissional do grupo.

Venda de sentenças judiciais: origem da operação

A ofensiva da PF tem relação direta com as investigações sobre o assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com 10 tiros em Cuiabá, em dezembro de 2023. Zampieri desempenhava papel central na apuração de um esquema bilionário de venda de sentenças, que começou no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e se estendeu até o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Foi através da análise do celular de Zampieri que os investigadores encontraram indícios de pagamento de propina a desembargadores e assessores de ministros do STJ, escancarando a gravidade do esquema.

Operação cumpre mandados em três estados

Nesta quarta-feira (29), a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, além de quatro mandados de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.

De acordo com nota da corporação, as diligências visam combater uma organização criminosa especializada em espionagem, homicídios sob encomenda e venda de sentenças.

Mandante e executores identificados

Entre os principais alvos da operação está o fazendeiro Aníbal Moreno Laurindo, apontado como o suposto mandante do assassinato. Ele foi indiciado em julho de 2024 pela Polícia Civil do Mato Grosso por homicídio duplamente qualificado.

O crime teria sido motivado por uma disputa agrária milionária: uma propriedade em Paranatinga (MT), avaliada em cerca de R$ 100 milhões.

Também são investigados o coronel do Exército Luiz Caçadini, acusado de ter atuado como intermediário entre o mandante e os executores; Antônio Gomes da Silva, identificado como o atirador; e Hedilerson Barbosa, apontado como o dono da pistola 9mm utilizada no crime.

Segundo a investigação, o executor seguiu os passos de Zampieri pelas ruas de Cuiabá antes de executá-lo a sangue frio. Após a prisão pela Polícia Civil, ele confessou o homicídio.

Execução filmada: crime com características de execução sumária

Zampieri foi brutalmente baleado com 10 disparos em frente ao seu escritório de advocacia, quando estava dentro do próprio carro. O crime foi registrado pelas câmeras de segurança do local e chocou a comunidade jurídica do país.

Após o envio do inquérito da Polícia Civil ao Supremo Tribunal Federal (STF), as investigações foram aprofundadas pela Polícia Federal.

Ministro Cristiano Zanin prorroga investigações

As ações foram autorizadas pelo ministro Cristiano Zanin, do STF, relator do caso, que prorrogou as investigações por mais 60 dias.

Em relatório enviado ao ministro, a PF justificou o pedido afirmando que o esquema se mostrou “consideravelmente mais sofisticado e complexo” do que o previsto inicialmente. Esta é a segunda prorrogação: em março, Zanin já havia ampliado as investigações por mais 45 dias.

Venda de sentenças, espionagem e homicídios: um esquema de alcance nacional

O caso revela um esquema criminoso com ramificações que extrapolam fronteiras estaduais, envolvendo espionagem a autoridades, uso de hackers, corrupção no Judiciário e execuções sob encomenda.

A operação reacende o alerta para a necessidade de maior controle sobre grupos paramilitares e organizações que atuam à margem da lei, infiltrando-se nas estruturas estatais e privadas.