Câmara aprova urgência de projeto que anula decreto do IOF, impondo dura derrota ao governo Lula

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em agenda no Palácio do Planalto em março - Gabriela Biló/Folhapress

Em um revés significativo para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Câmara dos Deputados aprovou, nesta segunda-feira (16), o regime de urgência para o projeto que visa derrubar o decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A decisão amplia o desgaste entre o Executivo e o Legislativo e reflete a crescente insatisfação do Congresso com a condução econômica do Palácio do Planalto.

O requerimento de urgência, proposto pelo líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), foi aprovado com ampla maioria: 346 votos a favor e apenas 97 contrários — ultrapassando com folga os 257 necessários. A medida acelera a tramitação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL), permitindo que ele vá direto ao plenário, sem passar pelas comissões temáticas.

Nos bastidores, ministros e o próprio Lula atuaram para evitar a votação, mas não conseguiram conter a pressão dos parlamentares. O placar incluiu votos até mesmo de partidos da base aliada, como PSD, MDB e União Brasil, que hoje controlam ministérios no governo federal.

Congresso envia recado claro: insatisfação com a política fiscal

O líder do PSD, Antonio Brito (BA), justificou o apoio dizendo que o partido é contrário a qualquer forma de aumento de impostos. Já o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) destacou a incoerência de aprovar criação de cargos públicos dias antes e agora se posicionar contra o decreto, revelando as contradições dentro da própria base governista.

Para integrantes do centrão, a votação simboliza uma demonstração de força e um recado direto: qualquer proposta de reforma tributária precisa passar pelo crivo dos líderes partidários, sob pena de enfrentar resistência em massa.

Aumento do IOF causa tensão e desgasta articulação política

O decreto editado em 22 de maio eleva alíquotas do IOF em operações de câmbio e crédito empresarial. A medida foi rapidamente criticada por representantes do setor produtivo e do próprio Congresso. Pressionado, o governo recuou parcialmente, editando novo texto com alíquotas reduzidas. Paralelamente, a equipe econômica apresentou uma medida provisória com alternativas para reforçar a arrecadação, como:

  • Fim da isenção de LCA e LCI

  • Taxação sobre apostas online e fintechs

  • Alterações no regime do JCP (Juros sobre Capital Próprio)

Ainda assim, a base aliada não demonstrou apoio. PP e União Brasil, que detêm quatro ministérios, repudiaram publicamente o aumento de impostos e cobraram um plano efetivo de corte de gastos públicos.

Governo aposta em emendas e negociação para salvar medidas

Lideranças governistas, como José Guimarães (PT-CE), acusaram a oposição de populismo fiscal e demagogia, afirmando que as propostas visam proteger os mais pobres. Ele relembrou que, embora o Congresso tenha vetado cortes no fundo constitucional do DF, é preciso assumir responsabilidade com as contas públicas.

Enquanto isso, Lindbergh Farias (PT-RJ), da federação PT-PCdoB-PV, defendeu que a aprovação do PDL pode gerar um impacto de R$ 12 bilhões nas despesas do governo, tornando a medida fiscalmente inviável.

A expectativa do Planalto agora é que o pagamento de emendas parlamentares ajude a arrefecer os ânimos e evitar a aprovação do mérito do projeto. No caso da medida provisória, o governo ainda conta com até quatro meses para negociar com o Congresso e tentar preservar ao menos parte das propostas, fundamentais para fechar o orçamento de 2025 e 2026, anos-chave no calendário eleitoral.