A saída da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) do Brasil repercutiu intensamente nas redes sociais e nos bastidores políticos, enquanto o clã Bolsonaro — com quem a parlamentar construiu sólida aliança nos últimos anos — permanece em silêncio absoluto.
Zambelli, considerada uma das figuras mais influentes da direita bolsonarista e conhecida como “propagandista oficial” do conservadorismo nas redes sociais, acumula mais de 6 milhões de seguidores. Ela reelegeu-se em 2022 com impressionantes 946.244 votos — um crescimento 12 vezes maior em relação a 2018, quando entrou na Câmara impulsionada pela primeira onda bolsonarista.
Porém, o vínculo político entre Jair Bolsonaro e Zambelli sofreu um rompimento dramático após o episódio em que a deputada perseguiu, com arma em punho, um homem negro nas ruas de São Paulo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022. Para Bolsonaro, a repercussão internacional do caso foi determinante para sua derrota frente a Luiz Inácio Lula da Silva.
Zambelli deixa o país, mas clã Bolsonaro evita comentar
Enquanto governistas acusam Zambelli de fugir para escapar da prisão, os principais integrantes do clã Bolsonaro — incluindo Jair e Eduardo Bolsonaro — optaram pelo silêncio estratégico, evitando manifestações públicas sobre a fuga da ex-aliada.

Na contramão do silêncio, a deputada recebeu solidariedade de alguns colegas. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), defendeu Zambelli com veemência:
“Minha total e irrestrita solidariedade à decisão da deputada Carla Zambelli. A mulher mais votada do Brasil foi forçada a deixar o país, não por crime, mas por opinião. Mais uma vez, vemos o Judiciário ultrapassar os limites constitucionais para perseguir parlamentares conservadores.”
Por outro lado, representantes do governo e da esquerda criticaram duramente a atitude da parlamentar.
Governo reage: “Fuga é modus operandi da extrema direita”
Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), a decisão de Zambelli é mais um exemplo do comportamento típico da extrema direita.
“A fuga de Zambelli, para a Europa, após condenação a 10 anos de prisão, expõe a verdadeira face da extrema direita: inimiga da democracia como ideologia, e a violência e a fuga como método”, disparou.
Em tom semelhante, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) ironizou o patriotismo de Zambelli:
“Patriotismo de aeroporto: berra ‘Brasil acima de tudo’ e foge na primeira conexão. A covardia também é método.”
Condenação e reação judicial
Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão, além do pagamento de R$ 2 milhões em danos morais, por sua participação na invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O caso ganhou notoriedade nacional e internacional, tornando-se símbolo da atuação da extrema direita na política brasileira.
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) a prisão preventiva de Zambelli, em mais um capítulo da escalada judicial que envolve a parlamentar.
Clima tenso na direita
O silêncio do clã Bolsonaro sobre a fuga de uma das mais leais apoiadoras expõe o atual isolamento político de Zambelli e a fragmentação do campo conservador no Brasil. A possibilidade de novas ordens de prisão contra bolsonaristas investigados reacende a tensão nos bastidores de Brasília, enquanto a direita vê suas principais lideranças enfrentarem o cerco da Justiça.