“Apocalipse nos Trópicos” estreia na Netflix em 14 de julho e traz um alerta contundente sobre o avanço da ideologia religiosa no centro do poder nacional
A premiada cineasta Petra Costa volta ao foco internacional com o lançamento de seu novo documentário, “Apocalipse nos Trópicos”, que estreia globalmente na Netflix em 14 de julho. O longa analisa, com profundidade crítica, a crescente influência do movimento evangélico na política brasileira — tema cada vez mais urgente e relevante diante do cenário sociopolítico atual.
Um dos nomes por trás da produção chama atenção: Brad Pitt, vencedor do Oscar, assina como produtor executivo por meio de sua empresa Plan B Entertainment. O ator apostou no projeto ainda em fase inicial, ao considerar o tema não apenas pertinente ao Brasil, mas também ao debate religioso e político nos Estados Unidos.

A conexão entre Petra e Pitt remonta ao Oscar de 2020, quando a diretora foi indicada por “Democracia em Vertigem”. Embora tenham trocado poucas palavras na época, a parceria amadureceu com “Apocalipse nos Trópicos”, consolidando-se em 2023. O filme estreou fora de competição no Festival de Veneza e agora chega ao streaming com distribuição em mais de 190 países.
Religião, poder e política: um retrato inquietante
No documentário, Petra investiga o cruzamento entre fé, poder e estratégia eleitoral no Brasil, com foco especial no crescimento dos evangélicos. Entre os momentos retratados, há uma visita emblemática do pastor Silas Malafaia ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto, evidenciando a proximidade entre líderes religiosos e o núcleo do poder federal.

Mais do que um registro factual, o filme é uma análise provocativa sobre como a narrativa apocalíptica das igrejas evangélicas vem moldando decisões políticas e alimentando uma guerra ideológica. A obra também lança luz sobre as consequências sociais de um projeto que flerta com a teocracia, questionando os limites entre liberdade religiosa e ameaça à democracia.
O retrato estatístico da fé evangélica
A estreia do documentário coincide com um momento histórico para o Brasil: pela primeira vez, mais de um em cada quatro brasileiros se declara evangélico. Dados do Censo 2022 do IBGE revelam que 26,9% da população adota essa identidade religiosa, o maior percentual já registrado. Em contraste, o catolicismo recuou para 56,7%, o menor índice desde o início das medições.
O avanço é ainda mais expressivo entre os jovens:
📊 31,6% dos adolescentes de 10 a 14 anos são evangélicos, seguidos por 28,9% entre 15 e 19 anos.
📍Geograficamente, o fenômeno é mais intenso no Norte (36,8%) e no Centro-Oeste (31,4%), com o Acre liderando (44,4%).
Petra Costa, ao expor essa interseção de números, ideologias e estratégias políticas, dá rosto e voz a uma transformação silenciosa, mas poderosa, no imaginário coletivo do país. Segundo a diretora, ignorar essa realidade pode resultar em danos profundos e duradouros à democracia.
Destaque internacional e agenda global
Enquanto finaliza a promoção do filme, Petra participa esta semana do Festival Internacional de Cinema de Xangai, na China, onde integra o júri oficial — sendo a única representante brasileira entre os convidados. O evento também exibirá seu aclamado “Democracia em Vertigem”, reafirmando a posição da diretora como uma das vozes mais relevantes do cinema político contemporâneo.
Com “Apocalipse nos Trópicos”, Petra não apenas documenta um Brasil em transformação; ela também lança um aviso global sobre o poder que a fé organizada pode exercer quando associada a interesses políticos. E, com Brad Pitt ajudando a levar essa mensagem ao mundo, o alerta ecoa ainda mais alto.