Conversas apontam que Hang financiou blogueiro com apoio de Eduardo Bolsonaro

Documentos obtidos pela CPI da Pandemia mostram como o terceiro filho do presidente intermediou o contato entre Allan dos Santos e o empresário

O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, acusado de disseminar fake news, conseguiu patrocínio do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, com apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Isso é o que mostram conversas obtidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.

Segundo a TV Globo, que teve acesso aos documentos, uma troca de mensagens entre o blogueiro e o terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ilustra isso. “Preciso que você me coloque em contato com o Luciano Hang”, disse Allan a Eduardo, que enviou o telefone do empresário e perguntou: “Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?”.

Allan gostou da ideia, então Eduardo disse que procurou Hang e retornaria com respostas. Tempos depois, o filho “03” escreveu para o blogueiro: “Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nesta semana de aulas com o Olavo”.

Ele se referiu ao astrólogo e ideólogo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. Na sequência, Allan explicou que voltaria a falar com Hand depois que o empresário retornasse da Europa. Cerca de quatro meses depois, ele avisou a Eduardo: Luciano Hang tá dentro. Patrocínio para o programa”.

A TV Globo teve acesso ainda a uma conversa entre o blogueiro e o empresário, que confirmou a intermediação do deputado. “Eduardo Bolsonaro me falou que conversou contigo”, disse Hang.

Convocado a depor na CPI , o dono das lojas Havan deve prestar depoimento na próxima quarta-feira (29). Para a cúpula da comissão, há uma rede de fake news que foi intensificada durante a pandemia.

“O que nós concluímos e identificamos na Comissão Parlamentar de Inquérito é a existência de uma verdadeira organização criminosa de fake news que teve papel determinante no agravamento da pandemia. Veja, essa organização criminosa começa a se articular e se constituir a partir de 2019, e, na pandemia, para reforçar o discurso negacionista do presidente da República e do seu governo”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.

Além de Allan dos Santos, a comissão também investiga Bernardo Kuster, outro suposto disseminador de fake news – de acordo com a publicação, os senadores recolheram mais de 100 postagens dele com mentiras relacionadas à pandemia.

Os documentos em posse da CPI indicam que Kuster, inclusive, articulou ataques ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no dia 2 de abril. Na ocasião, o tucano havia anunciado novas medidas de combate ao coronavírus, além de ter trocado mensagens com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre deixar as diferenças políticas de lado no enfrentamento à pandemia.

“Recebi ordens do GDO pra levantar forte a tag #doriapiorquelula. Bora lá no Twitter. Tá subindo a tag em quarto lugar”, escreveu Kuster no grupo “Direita Unida”. O GDO a que ele se refere é a sigla para “gabinete do ódio”.

Diante das informações expostas, os envolvidos foram procurados. Hang disse que as informações não passam de uma “narrativa absurda”, que não integra nenhum gabinete e que não patrocinou veículos de internet que disseminam desinformação. O Jornal Nacional afirma que não conseguiu contato com Eduardo Bolsonaro, Allan dos Santos e Bernardo Kuster.