Os Correios registraram um prejuízo alarmante de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2025, número que representa um salto de 115% em relação ao mesmo período de 2024, quando o déficit foi de R$ 801 milhões. Este é o pior resultado da estatal desde 2017, ano em que os dados passaram a ser divulgados publicamente.
Este é também o 11º trimestre consecutivo de prejuízo sob a gestão de Fabiano Silva, atual presidente da empresa, que até agora não apresentou uma justificativa clara sobre as causas do rombo bilionário. Em nota lacônica, a estatal garantiu que a “continuidade operacional para 2025 está assegurada”, mas sem detalhar como pretende superar a crise.
Fluxo de caixa no limite: Correios operam com apenas R$ 126 milhões
O fluxo de caixa preocupa profundamente. A empresa, que gastou R$ 2,9 bilhões de suas reservas financeiras em 2024 — o equivalente a 92% de seu caixa —, agora conta com apenas R$ 126 milhões para cumprir suas obrigações mensais. A crise de liquidez levou os Correios a recorrer a dois empréstimos emergenciais no fim de 2024, no valor total de R$ 550 milhões, e já há articulações para uma nova linha de crédito bilionária para evitar o colapso.
Essa situação crítica resultou em atrasos nos repasses a transportadoras e fornecedores, causando lentidão na entrega de encomendas e impactando negativamente a imagem da estatal junto aos consumidores. Agências franqueadas também sofreram com atrasos nas comissões, e até o plano de saúde dos funcionários teve a cobertura suspensa em algumas redes hospitalares.
Medidas drásticas para tentar estancar a crise
Para enfrentar o abismo financeiro, a estatal anunciou um pacote de medidas que visa gerar uma economia de R$ 1,5 bilhão:
➡️ Corte de 20% na estrutura de cargos comissionados;
➡️ Redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias;
➡️ Suspensão temporária de férias a partir de junho;
➡️ Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV);
➡️ Retorno ao trabalho 100% presencial a partir de 23 de junho;
➡️ Lançamento de um marketplace próprio em 2025;
➡️ Captação de R$ 3,8 bilhões junto ao New Development Bank (NDB) para novos investimentos.
Além disso, a estatal estuda:
➡️ Venda de imóveis ociosos;
➡️ Otimização da malha logística;
➡️ Reestruturação de unidades e redução de custos com manutenção;
➡️ Revisão de contratos em todas as 10 maiores superintendências estaduais.
Correios miram lucro de R$ 3,1 bilhões com expansão comercial
Na tentativa de reverter o cenário negativo, os Correios apostam na expansão de serviços:
➡️ Novos modelos para o segmento internacional e encomendas;
➡️ Soluções de logística para o setor público;
➡️ Ampliação do atendimento a PMEs e e-commerce;
➡️ Maior rentabilização do varejo físico.
Sindicatos reagem e denunciam impacto social das medidas
A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect) já se posicionou contra algumas das medidas, como a suspensão de férias e a redução da jornada, alertando para o impacto negativo na vida dos funcionários e exigindo garantias jurídicas.
Além disso, a entidade pede que a estatal convoque os aprovados no último concurso público antes de efetivar desligamentos, para evitar a sobrecarga de trabalho e o comprometimento da qualidade dos serviços.
Estatal tenta sobreviver em meio a crise de liquidez e desgaste de imagem
Com a situação financeira em estado crítico, a falta de transparência sobre as causas reais da crise e a adoção de medidas que impactam fortemente a vida dos trabalhadores e consumidores, os Correios enfrentam o desafio de recuperar sua credibilidade, manter as operações e evitar que o cenário evolua para um processo de privatização forçada ou insolvência.