Crise fiscal à vista: especialistas alertam para risco de “apagão” se governo e Congresso não ajustarem despesas

Câmara derruba aumento do IOF proposto pelo governo — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Enquanto o governo Lula luta para equilibrar as contas com novos impostos, o Congresso derruba decretos e, de quebra, embute custos bilionários na conta de luz. O impasse, afirmam economistas, empurra o Brasil para um cenário extremo: falta de recursos a partir de 2027 e paralisação de serviços essenciais.

IOF derrubado, buraco maior

A revogação dos atos que elevavam o IOF — tributo sobre crédito, câmbio e seguros — expôs a fragilidade da estratégia de aumentar a arrecadação sem mexer em gastos obrigatórios. Sem os R$ 10 bilhões previstos, o Tesouro terá de bloquear mais verbas ou buscar outra fonte de receita para zerar o déficit deste ano, dentro do intervalo de tolerância de R$ 31 bilhões.

“A derrubada implica contingenciamento imediato de R$ 12 bilhões. Cortaremos de onde? Educação? Saúde? Minha Casa, Minha Vida?”, advertiu o líder do PT, Lindbergh Farias.

Arcabouço fiscal pressiona “gastos livres”

O arcabouço fiscal, aprovado em 2023, limita o avanço real das despesas a 2,5% ao ano. Entretanto, aposentadorias, salário mínimo, BPC, saúde e educação continuam crescendo acima desse teto. Sem reformas, o espaço para gastos discricionários — como investimentos, pesquisas e programas sociais — encolherá até chegar a zero em 2027. O resultado? “Apagão” administrativo.

Entre os gastos livres ameaçados estão emissão de passaportes, bolsas do CNPq e CAPES, fiscalização ambiental e o Farmácia Popular.

Corte de despesas: propostas na mesa

Especialistas listam reformas urgentes:

Área Proposta central
Previdência e BPC Desvincular reajuste do salário mínimo; idade mínima unificada; valor do BPC inferior ao da aposentadoria contributiva
Saúde e Educação Desatrelar os pisos constitucionais da variação da receita
Servidor público Reduzir salários iniciais, alongar progressões e limitar carreiras
Benefícios fiscais Revisar renúncias para setores específicos
Administrações Ampliar fiscalização do Bolsa Família; reestruturar seguro-desemprego e abono salarial
Imposto de Renda Ampliar base de contribuintes, tributar lucros e dividendos, reduzir deduções de alta renda
“Jabutis” elétricos: conta de luz na mira

Na contramão do ajuste, o Congresso reintroduziu artigos estranhos ao marco da energia eólica offshore. Segundo associações do setor:

  • A conta de luz pode subir 3,5% já nos próximos anos;

  • O acréscimo total para consumidores pode chegar a R$ 195 bilhões até 2050 — o Ministério da Fazenda calcula até R$ 525 bilhões.

Risco político e econômico

Sem cortes profundos, o país enfrentará:

  • 2026 — ano eleitoral com recursos livres minguados;

  • 2027 — possível paralisação da máquina pública, forçando revisão do arcabouço.

A Instituição Fiscal Independente (IFI) e o Banco Mundial concordam: somente reformas estruturais impedem uma crise fiscal aguda. A bola, agora, está com o Planalto e o Congresso — e o relógio corre.