
Confronto entre Palácio do Planalto e Câmara escancara risco de novas derrotas para o governo Lula.
Irritação transatlântica
Direto de Lisboa, onde participa do 13º Fórum de Lisboa, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos‑PB), enviou recados duros ao Palácio do Planalto. Nas conversas com emissários governistas, disse-se alvo de “campanha difamatória” nas redes sociais depois que o IOF foi derrubado no Congresso. Motta reserva especial desagrado às declarações do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que o acusaram de quebrar um acordo costurado no domingo anterior à votação.
Suprema cobrança por gesto político
Também em Lisboa, ministros do Supremo Tribunal Federal defenderam — nos bastidores — um gesto público de pacificação por parte do Executivo. A avaliação é que o antibolsonarismo já não basta para manter a coalizão, e um simbólico “afago” ao presidente da Câmara seria ponto de partida para restabelecer o diálogo.
Defesa dentro do governo
Informada do clima tenso, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) saiu em defesa de Motta. Nas redes, condenou os ataques pessoais e destacou que disputas políticas não justificam “ofensas desqualificadas”. Em sintonia, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT‑CE), reforçou a solidariedade ao deputado e alertou: transformar o revés do IOF em ataque pessoal só fragiliza ainda mais as negociações.
O debate, a divergência, a disputa política fazem parte da democracia. Mas nada disso autoriza os ataques pessoais e desqualificados nas redes sociais contra o presidente da Câmara, deputado @HugoMottaPB, o que repudio. Não é assim que vamos construir as saídas para o Brasil,…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 2, 2025
Temor de efeito dominó
Aliados de Motta lembram que, na fila de votação, há ao menos seis matérias centrais para o Planalto. O receio é que um clima de hostilidade provoque novas derrotas em série. Por isso, o ministro‑chefe da AGU, Jorge Messias, entrou em campo; articulou com o ministro Alexandre de Moraes uma saída de conciliação para a ação que tenta restaurar o aumento do IOF.
Lula acusa quebra de palavra
Enquanto isso, em agenda na Bahia, Lula classificou como “absurdo” o fato de Motta ter pautado a derrubada do decreto, insinuando quebra de compromisso firmado na casa do deputado. A declaração elevou a temperatura: parlamentares próximos a Motta afirmam que ele jamais prometeu barrar a votação e, tampouco, responderá ao presidente pela internet.
Visibilidade e desgaste
Se por um lado Motta virou vidraça nas redes — onde é tachado de “traidor” —, por outro ganhou protagonismo nacional. Ele ainda não comentou publicamente o episódio, mas interlocutores confirmam que a relação com o Planalto “azedou” depois de o decreto ter sido levado a plenário sem aviso prévio.
Pragmáticos do STF
Nos corredores do STF, ministros como Gilmar Mendes enxergam risco de paralisia institucional. A recomendação é simples: menos retórica, mais articulação. A cifra de 383 votos a favor da derrubada do IOF escancara a aritmética adversa ao Planalto.
Lula pretende reunir-se com Motta e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União‑AP), logo após o retorno da cúpula do Brics. Até lá, emissários governistas esperam esfriar os ânimos — e impedir que a crise fiscal se transforme em crise política permanente.
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