Crise no Oriente Médio pressiona petróleo, mas governo tenta conter alta dos combustíveis via Petrobras

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Mesmo diante da disparada no preço do petróleo após o ataque de Israel ao Irã, o governo brasileiro articula nos bastidores uma pressão direta sobre a Petrobras para evitar um novo reajuste nos preços dos combustíveis. A estratégia é usar o controle da maioria no Conselho de Administração da estatal — 6 das 11 cadeiras — para segurar a escalada dos valores nas bombas e evitar impactos imediatos no bolso do consumidor.

Na última sexta-feira (13), o barril do petróleo tipo Brent teve alta de quase 8%, fechando a US$ 74,80, acumulando um avanço de mais de 10% em apenas dois dias. A alta foi impulsionada pelo agravamento das tensões no Oriente Médio, elevando o alerta no mercado global de energia.

Gasolina e diesel estão com preços defasados no Brasil

Segundo dados atualizados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), a defasagem nos preços da Petrobras em relação ao mercado internacional aumentou consideravelmente: a gasolina está 6% mais barata no Brasil, e o diesel 11%. Na véspera, essas diferenças eram de 1% e 5%, respectivamente.

Essa diferença preocupa acionistas, especialmente os investidores minoritários, já que uma defasagem prolongada pode prejudicar os resultados financeiros da Petrobras. Ainda assim, interlocutores do governo afirmam que a política de preços atual da companhia considera tendências mais duradouras, e não oscilações pontuais do mercado, o que justifica a demora para ajustes.

Governo tenta segurar novo reajuste

Mesmo com a pressão crescente do mercado internacional, a Petrobras reduziu, há dez dias, o preço da gasolina para as distribuidoras em 5,6% (R$ 0,17 por litro) — o primeiro corte do ano. Naquele momento, o combustível ainda apresentava ágio de 3% em relação ao mercado externo. Agora, com a defasagem invertida e agravada, cresce o risco de um reajuste para cima caso o conflito internacional persista.

Mercado aposta em petróleo acima de US$ 100

Para analistas do setor, se a crise entre Israel e Irã continuar se intensificando, o barril de petróleo poderá ultrapassar a marca simbólica de US$ 100, cenário que inevitavelmente pressionará a Petrobras a repassar os aumentos.

O mercado financeiro já reagiu: as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) subiram 2,13%, fechando a R$ 34,98 nesta sexta-feira (13). A expectativa é de que, mesmo com interferência política, a estatal tenha de se reposicionar comercialmente diante do novo contexto internacional.