Um grupo de paleontólogos descobriu na costa do Peru um fóssil bem conservado de um ancestral anfíbio e quadrúpede das baleias, uma descoberta que ajudará a completar os conhecimentos sobre a transição dos mamíferos da terra firme para o mar.
O novo espécime, descrito em um estudo publicado na edição desta quinta-feira (4) da revista especializada Current Biology, tem 42,6 milhões de anos e completa o quadro de evolução dos cetáceos.
O fóssil estava a um quilômetro da costa do Pacífico em Playa Media Luna, 250 km ao sul de Lima. As mandíbulas estavam rente ao solo do deserto e, ao cavar, os pesquisadores encontraram a mandíbula inferior, dentes, vértebras, costelas, partes das patas dianteiras e traseiras com dedos longos que, sem dúvida, eram espalmados.
Os ancestrais das baleias e dos golfinhos viveram há 50 milhões de anos no que hoje são Índia e Paquistão.
Os paleontólogos também encontraram fósseis parciais de 41,2 milhões de anos na América do Norte, o que sugere que naquele momento os cetáceos tinham perdido a capacidade de se levantar e caminhar sobre a terra.
Segundo a anatomia do exemplar encontrado, os pesquisadores acreditam que este cetáceo, de cerca de quatro metros de comprimento, era capaz tanto de caminhar quanto de nadar.
“Uma parte das vértebras da cauda mostrou semelhanças com as dos mamíferos semiaquáticos atuais, como as lontras”, explicou à AFP o paleontólogo Olivier Lambert no Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica.
“Teríamos, então, um animal que teria começado a usar cada vez mais a cauda para nadar, o que o diferencia das formas mais antigas da Índia e do Paquistão”, acrescentou.
Fragmentos de baleias quadrúpedes já tinham sido encontrados no Egito, no Saara Ocidental, Senegal, Togo e Nigéria, mas estes fósseis estavam tão fragmentados que não foi possível concluir se estes animais conseguiam nadar.
“O espécime é o mais completo de uma baleia quadrúpede, além dos de Índia e Paquistão”, afirmou Olivier Lambert.
Se a baleia peruana conseguia nadar como a lontra, os pesquisadores supõem que provavelmente cruzou o Atlântico, ajudada por correntes leste-oeste da época entre a costa oeste da África e a América do Sul, continentes que estavam duas vezes mais próximos do que agora, a 1.300 km um do outro.
Isto descartaria a hipótese de que as baleias chegaram à América vindas do Norte, através da Groenlândia.
A bacia do Pisco, na costa sul do Peru, ainda contém muitos fósseis, pois as condições de conservação são excelentes.
“É um trabalho de pelo menos 50 anos”, diz Olivier Lambert.
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