Dólar recua a R$ 5,58, menor valor desde outubro, impulsionado por avanço nas negociações entre EUA e China

Arte: Reprodução/IA Generativa

O dólar fechou em forte queda nesta quinta-feira (6), desvalorizando 1,03% e encerrando o dia cotado a R$ 5,585 — o menor patamar desde outubro do ano passado. Durante a mínima do pregão, a moeda americana chegou a R$ 5,577.

O movimento foi impulsionado pela reaproximação diplomática entre Estados Unidos e China. Em um gesto simbólico, o presidente Donald Trump fez a primeira ligação oficial ao líder chinês Xi Jinping desde que assumiu o cargo, reacendendo as expectativas em torno de um possível avanço nas negociações comerciais que se arrastam há meses.

Trump afirmou, no Salão Oval, que as conversas com Pequim estão “em boa forma” e reforçou a intenção de visitar a China quando Xi também estiver nos EUA. Além disso, confirmou que representantes americanos terão novas reuniões com autoridades chinesas para prosseguir com as tratativas.

A relação entre as duas maiores economias do planeta, marcada por tensões constantes, se deteriorou nas últimas semanas após acusações mútuas de quebra no acordo comercial firmado em maio. O pacto havia reduzido as tarifas americanas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China baixou as suas para 10%, ante 125%.

Entretanto, o novo ponto de atrito envolve as exportações de terras raras — metais cruciais para a indústria de eletrônicos. Os EUA acusam a China de descumprir a promessa de afrouxar os controles sobre esses insumos estratégicos, enquanto Pequim se queixa das novas restrições impostas por Washington à venda de softwares de design de chips e aos vistos para estudantes chineses.

Imagem/reprodução: Xiaomi. A fabricante chinesa corre o risco de enfrentar o mesmo destino da Huawei: as sanções.

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Em meio a esse cenário, Trump declarou em sua rede Truth Social: “Nossas respectivas equipes se reunirão em breve para resolver as pendências”. Apesar da sinalização, não ficou claro se houve concessões concretas de ambos os lados.

O anúncio do telefonema entre os líderes repercutiu imediatamente nos mercados globais. O dólar acelerou a queda frente a moedas emergentes, como o real, o peso chileno e o rand sul-africano, enquanto o índice DXY, que mede o desempenho da divisa americana frente a uma cesta de seis moedas fortes, despencou para as mínimas do dia.

Outro fator que pesou na desvalorização do dólar foi a decisão do Banco Central Europeu (BCE), que cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano, indicando uma possível pausa no ciclo de estímulos monetários. “Estamos chegando ao fim de um ciclo que respondeu a choques como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a crise energética”, afirmou Christine Lagarde, presidente do BCE.

Esse cenário favoreceu o euro, pressionando ainda mais o dólar no mercado internacional, conforme explicou Leonel Mattos, analista da StoneX.

No Brasil, o Ibovespa acompanhou o clima de instabilidade e fechou em baixa de 0,55%, aos 136.236 pontos, impactado também pelo mau humor vindo de Wall Street. O embate entre Trump e Elon Musk contribuiu para derrubar as ações da Tesla em mais de 9%, puxando o mercado americano para baixo.

Adicionalmente, a divulgação de dados mais fracos que o esperado na economia dos EUA reforçou o pessimismo. O relatório ADP revelou a criação de apenas 37 mil vagas no setor privado em maio, bem abaixo das 110 mil projetadas. Paralelamente, os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram para 247 mil, superando as estimativas de 235 mil.

Agora, todas as atenções se voltam para o relatório de emprego oficial (“payroll”), que será divulgado nesta sexta-feira (7). O dado é essencial para calibrar as expectativas em torno da política monetária do Federal Reserve.

“O cenário reforça a percepção de que a economia americana está perdendo fôlego rapidamente, impactada pela guerra tarifária e pela imprevisibilidade das políticas de Trump”, avaliou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

No front doméstico, o foco segue sendo o ajuste fiscal. O governo Lula busca alternativas para o impasse envolvendo o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que qualquer decisão será tomada após reunião com lideranças partidárias neste domingo.

“A sinalização foi bem recebida pelo mercado, pois demonstra disposição para negociar”, destacou Spiess.

Por outro lado, pesquisas recentes, como a Genial/Quaest, apontam queda na popularidade do presidente: 43% avaliam negativamente o governo, enquanto apenas 26% mantêm avaliação positiva. Esse contexto eleva o temor de que o Planalto possa recorrer a medidas de estímulo fiscal para reverter a tendência.

O cenário cambial segue, portanto, marcado por incertezas globais e locais, com o dólar testando novos patamares, influenciado pela diplomacia internacional, dados econômicos e, claro, pelas expectativas eleitorais de 2026.