
Desempenho cambial reflete trégua tarifária nos EUA e disputa judicial em torno do IOF; setor bancário puxa Ibovespa para baixo, apesar de alta da Vale.
Dólar recua com cenário externo mais ameno
O dólar encerrou a sessão desta quarta‑feira (2) em queda de 0,75%, a R$ 5,418, atingindo o piso de 11 meses. Em primeiro lugar, o movimento foi influenciado por uma desvalorização global da moeda norte‑americana, já que investidores ajustam posições à medida que se aproxima o fim da trégua tarifária imposta por Donald Trump. Além disso, dados de emprego abaixo do esperado nos Estados Unidos reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve possa antecipar cortes de juros, pressionando ainda mais o dólar.
Tarifas de Trump: relógio corre contra parceiros comerciais
Enquanto isso, a Casa Branca mantém o cronômetro apertado: até 9 de julho, países que desejam escapar de tarifas mais altas precisam fechar acordos com Washington. Porém, avanços concretos foram escassos. Embora um memorando limitado tenha sido firmado com o Reino Unido e uma trégua temporária continue em discussão com a China, a maioria dos entendimentos ficou aquém do prometido. Consequentemente, cresce a incerteza sobre o comércio global, o que, paradoxalmente, favoreceu divisas emergentes como o real.
IOF entra em pauta e adiciona ruído doméstico
No front interno, o mercado acompanhou a ofensiva do governo Lula para restaurar o decreto que eleva alíquotas do IOF. Após a derrubada do texto pelo Congresso, a AGU protocolou ação no STF alegando violação ao princípio da separação de Poderes. Entretanto, a disputa jurídica mantém um clima de cautela, sobretudo porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, condicionou a meta fiscal de 2026 a essa medida, a novos tributos sobre investimentos e ao corte de R$ 15 bilhões em renúncias.
Ibovespa cede, pressionado por bancos
Por outro lado, a Bolsa não surfou a onda positiva do câmbio. O Ibovespa recuou 0,35%, a 139.050 pontos, em um pregão dividido. De um lado, a Vale (VALE3) saltou mais de 4% em reação à recuperação do minério de ferro. Do outro, o setor bancário sofreu forte realização de lucros à espera de possíveis impactos do IOF e de novas regras sobre capital. Assim, o índice terminou no vermelho, ainda que distante das mínimas do dia.
Dados de emprego mistos nos EUA e apostas no Fed
Na agenda macroeconômica, o relatório ADP apontou queda de 33 mil vagas no setor privado dos EUA em junho, frustrando projeções de abertura de 100 mil postos. Entretanto, o indicador Jolts mostrou 7,8 milhões de vagas em aberto em maio, superando expectativas. Dessa forma, o mercado aguarda o payroll oficial desta quinta (3) para calibrar apostas: um enfraquecimento consistente do mercado de trabalho pode antecipar cortes de juros para antes de setembro.
Política monetária brasileira: BC sinaliza cautela
Ainda no Brasil, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, reiterou que a autoridade precisará de “tempo prolongado” para avaliar convergência da inflação à meta de 3%. Em outras palavras, apesar da recente alta de 0,25 ponto na Selic, atualmente em 15% ao ano, novas elevações parecem improváveis no curto prazo.
O que observar nos próximos dias
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Decisão do STF sobre o IOF – qualquer liminar favorável ao governo pode mudar as projeções fiscais.
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Relatório Payroll (3/7) – sinalizará a saúde do mercado de trabalho americano e, por extensão, o rumo dos juros do Fed.
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Prazo final da trégua tarifária (9/7) – um fracasso nas negociações pode ressuscitar tarifas de importação de Trump, afetando o comércio global.