Empresa de lobista tinha “enorme entrada” na Presidência

Mensagens mostram a influência de Marconny Faria, investigado pela CPI da Covid, com o governo Bolsonaro

Mensagens de WhatsApp, de março de 2019, apreendidas em investigação do Ministério Público Federal, no Pará, descreveram uma empresa vinculada ao lobista Marconny Albernaz de Faria, como “forte” e “com enorme entrada” na Presidência da República. Como revelou o Estadão, o lobista é suspeito de ter recebido R$ 400 mil para abrir portas no governo federal a um servidor do Instituto Evandro Chagas, em Belém, que desejava trocar a direção do órgão público.

Faria é investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado. Ele é suspeito de fazer lobby para a empresa Precisa Medicamentos junto ao Ministério da Saúde. Os senadores identificaram mensagens trocadas por ele com Jair Renan Bolsonaro, quarto filho do presidente; com as advogadas Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan e segunda ex-mulher de Bolsonaro, e Karina Kufa, que defende o presidente; e com o dono da Precisa, Francisco Maximiano. As conversas indicam que, em setembro do ano passado, o lobista ajudou Jair Renan a montar sua empresa de eventos.

O Estadão teve acesso a uma nota técnica da Controladoria Controladoria-Geral da União (CGU), feita para a investigação da Procuradoria da República, no Pará. O órgão analisou mensagens trocadas, em 2018 e 2019, pelo servidor do instituto paraense Marcio Roberto Teixeira Nunes e pelo empresário José Ferreira da Silva Filho, dono da Ferpel Comércio e Representação. As conversas mostram que o empresário fez pagamentos ao lobista por meio da empresa Gygha Administração Empresarial, a pedido do servidor do Evandro Chagas. O objetivo de Nunes e Silva Filho era emplacar Jorge Travassos como diretor do instituto e o próprio servidor como diretor-substituto.

Segundo a investigação, a Gygha tem como único sócio Arthur Souza Cirilo. Ele é motorista de Faria e funcionário registrado em outra empresa do lobista, a M N R A de Faria Administração Empresarial. Faria atua como “procurador” da Gygha na Junta Comercial do Distrito Federal e perante o Banco do Brasil. Os investigadores descobriram que Gygha é também o apelido do lobista. Em depoimento à CPI, o lobista confirmou que Cirilo é seu funcionário.

Nas conversas, Nunes não dizia a Silva Filho que o lobista era a pessoa por trás da empresa Gygha. O servidor Evandro Chagas apenas repassava ao empresário os pedidos de dinheiro. “Pediram 25.000”, “30”, “mais 20”, informava Nunes. Ele chamava os repasses de “incentivos”. Apenas entre 18 de janeiro de 2019 e 19 de junho daquele ano, a Gygha recebeu R$ 190 mil.

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