Empresário Cyro Anunciação é indiciado por suspeita de desviar R$ 10 milhões da mãe doente

Conteúdo do Portal Acrítica

Idosa de 71 tem doença de Alzheimer e, segundo o médico, mais facilidade para ser enganada. Transações suspeitas começaram em 2023

O empresário Cyro Batará Anunciação, dono do jornal Diário do Amazonas, foi indiciado pela Polícia Civil suspeito de apropriação de bens da pessoa idosa. A vítima, segundo a Polícia Civil, é a própria mãe do empresário, Waldelina Tavares Anunciação, de 71 anos, diagnosticada com doença de Alzheimer.

As investigações iniciaram em janeiro deste ano, após denúncia feita pelo irmão de Cyro, o empresário Francisco Cirilo Anunciação. Em julho, funcionários do jornal Diário do Amazonas foram intimados a prestar esclarecimentos na Delegacia Especializada em Crimes Contra o Idoso (DECCI) como parte das apurações.

Segundo o inquérito apresentado pela delegada Andrea Nascimento, titular da DECCI, foram constatado prejuízos financeiros para a idosa que, somados, chegam a pelo menos R$ 10 milhões. As transferências suspeitas de recursos começaram a partir de janeiro de 2023, quando Cyro começou a gerir as contas bancárias da mãe. Estão anexos ao inquérito comprovantes de robustas transferências e todas elas aconteciam sem qualquer procuração ou resguardo jurídico para a idosa, que tinha sua condição de saúde prejudicada.

No documento constam mais de 50 transferências da conta conjunta da idosa e de seu finado marido, Cassiano Cirilo Anunciação, para a conta pessoal de Cyro Anunciação, totalizando R$ 5,7 milhões. Deste montante, foram devolvidos para a conta da idosa apenas R$ 5 mil. Já daconta individual da vítima, foi transferido R$ 1,7 milhão, sem qualquer devolução de valor.

A idosa também tinha como fonte de rendimentos aluguéis de imóveis da família, que eram depositados na conta conjunta e, posteriormente, encaminhados para a conta pessoal de Waldelina. Referente aos alugueis, não houve movimentações anormais, no entanto a delegada titular da DECCI apontou uma redução de entradas financeiras na conta individual da vítima. Nos anos de 2021 e 2022, quando a idosa era responsável pelas suas finanças, houve uma entrada de R$ 1,7 milhão e outra R$ 1,6 milhão. Já em 2023, na administração de Cyro Batará, houve apenas a entrada de R$ 40 mil e neste ano a entrada está em zero.

Por fim, o inquérito também apontou supostas irregularidades nas transferências das contas conjunta e individual da idosa para a Editora Ana Cássia, a empresa responsável pelo jornal e  que está em nome de Cyro Batará. Conforme apontado pela delegada Andrea Nascimento no inquérito, a empresa recebeu das contas conjunta e individual R$ 1,2 milhão e R$ 395 mil, respectivamente.

<span;>“Tais movimentações evidenciam um comportamento financeiro discrepante se comparado aos anos anteriores, quando a própria idosa era responsável pelo controle financeiro, sendo totalmente destoante se comparados com os anos anteriores”, disse a delegada no inquérito.

<span;>Além disso, a Polícia Civil também identificou a transferência de quotas de 50% de empresa da idosa para Cyro Batará, em forma de doação. Ainda conforme o inquérito, Cyro Batará foi notificado para ser interrogado e indiciado, mas ele não compareceu no dia marcado de seu interrogatório, tendo a advogada, Catharina Estrela, solicitado dez dias como prazo para manifestação, entretanto, mais uma vez, ele não compareceu.

Médico foi ponto-chave

<span;>O médico neurologista que acompanhava a idosa Waldelina, Rogério Tuma, foi fundamental para a definição do inquérito. Isso porque, a despeito de ter concedido laudos sobre o estado de saúde da idosa que foram utilizados pela defesa de Cyro, ele afirmou, em depoimento, que ela “pode ser enganada mais facilmente que uma pessoa que tem todas as cognições preservadas”.  O médico indicou, ainda, que ele sempre era procurado para fazer uma avaliação da mãe de Cyro quando era necessário um exame para validar algum ato negocial realizado pela mesma, segundo o inquérito.

“Não era razoável com o grau de comprometimento da enfermidade que subsistia na idosa que a mesma continuasse há algum tempo praticando atos de vida civil como se estivesse em sua capacidade plena, sem que houvesse um cuidado devido de seus parentes. (…) Qual o porquê da demora em se reconhecer a vulnerabilidade da idosa? (…) tal conduta foi prejudicial a ela, principalmente, no âmbito financeiro”, diz o inquérito.