EUA dobram tarifas sobre aço para 50% e miram exportações brasileiras: medida afeta segundo maior fornecedor do mercado americano

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou nesta terça-feira (3) uma diretiva aumentando as tarifas sobre aço e alumínio de 25% para 50%, a partir desta quarta-feira (4) Foto: Reprodução

Em uma medida que promete abalar o comércio internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta terça-feira (3) um decreto que dobra as tarifas de importação sobre aço e alumínio, elevando-as de 25% para 50%. A decisão, que entra em vigor já à 1h01 desta quarta-feira (4), atinge diretamente o Brasil — segundo maior fornecedor de aço para o mercado americano.

Conforme o governo americano, a escalada tarifária busca fortalecer a indústria siderúrgica doméstica, que enfrenta dificuldades para competir com produtos estrangeiros vendidos a preços considerados desleais. “A saúde das nossas indústrias e a segurança nacional estão em risco”, justificou a Casa Branca.

Importações de aço pelos Estados Unidos – Valores referentes ao ano em 2024

O aumento drástico das tarifas, contudo, foi criticado por especialistas em comércio internacional. “A tarifa de 50% é praticamente proibitiva e inevitavelmente será repassada ao preço final”, alertou Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior. Ele reforça: “Os EUA não são autossuficientes em aço. Continuarão precisando importar, inclusive tipos de aço que não produzem internamente”.

Impacto direto no Brasil: aço semiacabado na linha de frente

O Brasil é o principal exportador de aço semiacabado aos EUA, produto essencial para a fabricação de chapas, tubos e perfis metálicos. Com a tarifa recorde, analistas preveem impacto imediato nas exportações brasileiras e possíveis efeitos colaterais no setor siderúrgico nacional.

Embora a medida afete todos os exportadores, o Reino Unido foi exceção: continuará sujeito à tarifa de 25%, em função de acordo bilateral firmado em maio. Já o Brasil, sem benefício semelhante, será um dos mais prejudicados.

Procurados, o governo brasileiro e o Instituto Aço Brasil ainda não se manifestaram sobre o endurecimento tarifário.

Brasil: desempenho expressivo ameaçado

Em 2024, o Brasil foi responsável por 16% das importações americanas de aço, com mais de 3,8 milhões de toneladas — superado apenas pelo Canadá. Em valores, somou US$ 2,66 bilhões, ficando atrás apenas do México e do Canadá. Em janeiro deste ano, o Brasil chegou a ultrapassar o Canadá, tornando-se o maior exportador mensal em volume.

Dados do Departamento de Comércio dos EUA mostram que, em março, o Brasil enviou 364 mil toneladas de aço ao país, atrás apenas das 367 mil toneladas canadenses. A nova tarifa ameaça reverter esse crescimento acelerado.

Histórico: mais uma ofensiva protecionista de Trump

A medida remete à política protecionista adotada por Trump em seu primeiro mandato, quando, em 2018, impôs tarifas de 25% sobre o aço importado. À época, o Brasil conseguiu negociar cotas de exportação para evitar maiores prejuízos. Contudo, em 2022, sob o governo de Joe Biden, essas restrições haviam sido suspensas — até agora.

Na última sexta-feira (29), Trump antecipou, em comício na US Steel, na Pensilvânia, que dobraria as tarifas para proteger a indústria nacional. O decreto se materializa às vésperas do fim da trégua tarifária global, prevista para expirar em 9 de julho.

Negociações de última hora e pressão diplomática

Nesta terça, a Casa Branca confirmou ter enviado cartas a países exportadores, incluindo o Brasil, oferecendo prazo até quarta-feira (4) para apresentarem propostas alternativas às tarifas. “O presidente espera bons acordos e estamos caminhando para isso”, afirmou a porta-voz da Casa Branca.

O governo brasileiro, até o momento, não confirmou o recebimento da notificação, mas fontes indicam que negociações estão em curso, com foco na tentativa de estabelecer cotas ou excluir o aço semiacabado brasileiro da medida.

Especialistas alertam para riscos à competitividade global

Analistas de comércio internacional classificam a medida como um duro golpe ao sistema multilateral de comércio, destacando que a elevação unilateral das tarifas fere regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e pode gerar uma nova onda de retaliações.

“Aumenta o risco de guerra comercial”, advertem. Além disso, a medida coloca o Brasil — já fragilizado economicamente — diante de mais um desafio estratégico, especialmente na busca por ampliar sua presença em mercados globais.

Como é feito o aço
Fonte: Vepica e engenheiro José Roberto Bolota/Infografia Mariana Froner/Reprodução