Ex-chanceler da Colômbia tentou apoio dos EUA para derrubar Petro, revela El País

“O Estado não é hereditário”, afirma Gustava Petro Governo da Colômbia / Flickr

Áudios vazados mostram Álvaro Leyva articulando destituição do presidente e possível transição de poder para a vice, Francia Márquez.

Um possível complô político contra o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, veio à tona neste domingo (29) com a revelação de áudios bombásticos publicada pelo jornal espanhol El País. O material aponta que o ex-ministro das Relações Exteriores colombiano, Álvaro Leyva, teria articulado uma ofensiva internacional para destituir Petro do cargo — inclusive buscando apoio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de membros do governo norte-americano.

Segundo a reportagem, Leyva tentou contato direto com o senador Marco Rubio, uma das principais vozes republicanas, propondo uma “pressão diplomática” para forçar a saída de Petro e substituí-lo pela vice-presidente, Francia Márquez. A gestão de Trump, no entanto, não demonstrou interesse na proposta, conforme apurou o El País.

Áudios sugerem plano golpista e uso da força

Em uma das gravações obtidas pela reportagem, Leyva declara:

“Temos que tirar esse cara de lá. Ele não pode presidir as eleições de 2026. A ordem pública acabou. Isso não pode acontecer.”

O ex-chanceler também menciona a possibilidade de utilizar “meios armados e não armados” para concretizar o plano. Procurado pelo jornal em Madri, Leyva não respondeu às acusações.

Petro reage e acusa oligarquia de sabotagem

O presidente Gustavo Petro reagiu com firmeza pelas redes sociais. Em uma publicação na plataforma X, ele classificou a denúncia como parte do que chamou de “comportamento histórico da oligarquia colombiana”, acusando Leyva de ter motivações pessoais e familiares para se voltar contra o governo.

Petro afirmou que a ruptura com o ex-ministro ocorreu após sua recusa em nomear o filho de Leyva para um cargo diplomático.

“Veem o Estado como hereditário, como um direito de fazer negócios com o tesouro público”, disparou o presidente.

Ele também criticou o que chamou de “conduta lobista” do filho do ex-chanceler, que teria usado a posição do pai para participar de reuniões internacionais sem ter cargo oficial no governo.

Escândalos, licitações e afastamento

Leyva já havia sido afastado oficialmente em janeiro de 2024 pelo Ministério Público da Colômbia. A decisão teve como base o cancelamento irregular de uma licitação para emissão de passaportes, favorecendo a empresa Thomas Greg & Sons — única restante no processo.

Segundo Petro, a tentativa de desestabilização também tem ligação com sua rejeição a “passos obscuros na chancelaria”, como o caso dessa contratação, que levou o Ministério Público a sancionar Leyva.

Acusações de difamação

O presidente colombiano ainda ironizou as acusações do ex-ministro, que o rotulou como “viciado em drogas”.

“Suponho que fale de comportamentos estranhos porque me viu chorando no discurso em ‘La Moneda’, quando celebrava o 50º aniversário do golpe contra Allende”, escreveu Petro, referindo-se à sua emoção durante um evento oficial no Chile.

Vice-presidente se defende: “Consciência tranquila”

A vice-presidente Francia Márquez, que teria sido a substituta direta de Petro em caso de golpe, também se manifestou. Ela negou qualquer envolvimento na suposta conspiração e reforçou sua fidelidade à ordem democrática:

“Tenho a consciência tranquila, a mente clara e o coração firme. Minha dignidade não é negociável.”

Embora tenha se distanciado politicamente de Petro nos últimos meses, Márquez garantiu que seguirá no governo até o fim do mandato, sem ceder a interesses particulares ou pressões golpistas.