Brasília — Duas empresas controladas pelo empresário Paulo Octávio movimentaram mais de R$ 1 bilhão em operações financeiras consideradas suspeitas, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) anexado ao inquérito da Polícia Federal que investiga a chamada “Farra do INSS” — um esquema bilionário de descontos ilegais sobre aposentadorias.
De acordo com o Relatório de Inteligência Financeira (RIF), a Paulo Octávio Investimentos Imobiliários enviou R$ 454,8 milhões e recebeu R$ 456,1 milhões entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020, totalizando expressivos R$ 911 milhões. Já a Paulo Octávio Imobiliária e Administradora, outra empresa do grupo, movimentou R$ 130,1 milhões no ano de 2021, também em operações consideradas atípicas pelos órgãos de fiscalização.
Ainda que o documento não detalhe quem foram os remetentes e os destinatários dessas quantias, as operações foram identificadas com indícios de lavagem de dinheiro ou outros ilícitos, sendo por isso comunicadas ao Coaf. A ligação com a investigação sobre a fraude bilionária no INSS se dá porque as empresas de Paulo Octávio realizaram transações financeiras com investigados diretamente envolvidos no esquema.
Segundo o relatório do Coaf, é importante destacar que nem todas as movimentações das contas são listadas — apenas aquelas que apresentaram indícios suspeitos e, por isso, foram comunicadas oficialmente.
Elo com o “Careca do INSS”
As conexões empresariais de Paulo Octávio se estendem a Milton Salvador de Almeida Júnior, sócio de longa data do empresário e também parceiro comercial de Antonio Carlos Camilo Antunes — o infame “Careca do INSS”, apontado como um dos principais operadores do esquema. Milton Júnior mantém sociedade com o lobista em pelo menos oito empresas, das quais três — Prospect Consultoria Empresarial, Acca Consultoria Empresarial e Truetrust Call Center — são alvos da investigação da PF.

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As empresas Prospect e Acca também aparecem listadas no relatório do Coaf, ao lado das companhias de Paulo Octávio, em meio às operações suspeitas que levantaram sinais de alerta. A apuração da Polícia Federal revela que empresas e contas ligadas a Milton Júnior movimentaram ao menos R$ 13,3 milhões direcionados a pessoas próximas de servidores do INSS e outros supostos integrantes do esquema criminoso.
O “Careca do INSS” é acusado de chefiar o núcleo que, segundo as investigações, pagava propinas a diretores do INSS para facilitar a inclusão indevida de descontos nas aposentadorias e beneficiar entidades ligadas à fraude.
O que diz Paulo Octávio
Em nota, a assessoria de imprensa de Paulo Octávio negou veementemente qualquer irregularidade. “Nenhuma empresa do grupo é parte no processo mencionado, bem como nunca teve nenhuma movimentação financeira realizada colocada em discussão ou dúvida”, afirmou.
A nota oficial ainda classificou a exposição dos dados financeiros como “indevida”, sustentando que o grupo empresarial “não tem qualquer relação com os fatos em apuração”. A assessoria ressaltou ainda que o sigilo bancário é protegido constitucionalmente e que qualquer divulgação indevida pode gerar responsabilização.
“Não custa lembrar que a exposição de dados financeiros de quem não é parte ou possui qualquer relação com os fatos apurados se mostra indevida e leva à responsabilização dos envolvidos, inclusive daqueles que inadvertidamente os divulgam”, alertou a empresa.
A defesa anexou ao posicionamento uma certidão que atesta o sigilo dos dados no processo judicial, reforçando que qualquer ilação sobre o envolvimento das empresas no esquema seria “irresponsável e inaceitável”.
Investigação segue em andamento
Apesar das negativas formais, o fato é que os relatórios financeiros, as conexões societárias e os volumes expressivos de movimentação colocam as empresas de Paulo Octávio sob o foco das autoridades. O inquérito da PF avança para mapear como esses fluxos financeiros se conectam com o núcleo central da fraude, que lesou milhares de aposentados por meio de descontos ilegais e arbitrários.
A “Farra do INSS” já resultou em operações da Polícia Federal, bloqueios de bens e intensa repercussão nacional, evidenciando os riscos do uso indevido de dados de beneficiários e a fragilidade dos sistemas de controle.
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