Filho do humilde serigueiro José Melo é preso pela PF

O ex-governador do Amazonas, José Melo (PROS), utilizou recursos públicos para asfaltar a estrada vicinal (ramal) que dá acesso ao sítio dele, situado em Rio Preto da Eva, na Região Metropolitana de Manaus, segundo informou a Polícia Federal. Cassado por compras de votos, Melo foi preso temporariamente nesta quinta-feira (21), na terceira fase da Operação Maus Caminhos, suspeito de envolvimento em esquema de propina com recursos da saúde.

“Uma das propriedades do ex-governador foi substancialmente valorizada em razão de um asfaltamento do ramal. Esse asfalto foi feito exclusivamente para que se chegasse à residência do governador. Com o dinheiro público”, afirmou o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva. Ainda segundo a investigação, esse é o único ramal pavimentado na região.

A participação de Melo no esquema foi identificada por meio de conversas telefônicas interceptadas entre o irmão do ex-governador, Evandro Melo, e Mouhamad Moustafa, apontado como chefe do esquema criminoso. Ambos estão presos.

A investigação da terceira fase da Maus Caminhos, denominada Estado de Emergência, apontou que a movimentação financeira do governador cassado é considerada incompatível com sua renda, especialmente em virtude da aquisição de um imóvel de alto valor, avaliado em cerca de R$ 7 milhões, além de reformas vultuosas em sítio de sua propriedade.

Prisão

José Melo foi preso em um sítio e encaminhado para a sede da Polícia Federal (PF), na capital. No sítio, a PF apreendeu cerca de R$ 90 mil. Aproximadamente R$ 300 foram localizados em outra residência onde foi cumprido mandado de busca e apreensão.

Além da prisão de Melo, a PF cumpriu mandados em empresas de propriedade da esposa do governador cassado, na manhã desta quinta-feira.

A PF informou ainda que a ex-primeira-dama deverá ser chamada para depor.

O caseiro do sítio de José Melo também foi preso por porte ilegal de arma de fogo, segundo o delegado da PF Alexandre Teixeira.

Diálogos

A Polícia Federal interceptou diálogo entre o médico Mouhamad Moustafa e a advogada Priscila Marcolino, também denunciada no esquema de desvios na saúde, em que ele pedia a ela que sacasse R$ 200 mil para que Mouhamad ficasse com R$ 500 mil em casa, pois havia recebido um pedido direto do “velhinho”, termo, segundo o MPF, utilizado por ele para se referir a José Melo.

Em outra ocasião, utilizando aplicativo de mensagens, Mouhamad pede novamente à Priscila que realize um saque, pois o “Gov e o irmão” estavam implorando pelo recebimento de uma quantia de R$ 80 mil.

Maus Caminhos

Em 2016, a Operação Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuía contratos firmados com o governo do estado para a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus; da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de Reabilitação em Dependência Química (CRDQ) do Estado do Amazonas, em Rio Preto da Eva. A gestão dessas unidades de saúde era feita pelo Instituto Novos Caminhos (INC), instituição qualificada como organização social.

As investigações que deram origem à operação demonstraram que dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao INC.

A apuração indica o desvio de R$ 50 milhões em recursos públicos, além de pagamentos a fornecedores sem contraprestação ou por serviços e produtos superfaturados, movimentação de grande volume de recursos via saques em espécie e lavagem de dinheiro pelos líderes da organização criminosa.

Operação Custo Político

No dia 13 deste mês, foi deflagrada a Operação Custo Político, que prendeu 12 pessoas, entre elas ex-secretários estaduais de pastas como Saúde, Fazenda, Administração e Casa Civil, além de um coronel da Polícia Militar.

Conforme as investigações, o grupo recebeu, pelo menos, R$ 20 milhões em propina. Um dos secretários de saúde, à época de seu mandato, chegou a receber pelo menos 14 pagamentos de R$ 133 mil para favorecer o INC, desde a qualificação do instituto como organização social. Outro pagamento identificado, também envolvendo um ex-secretário, totaliza R$ 5,6 milhões, pagos durante 18 meses em repasses de R$ 300 mil.