Novo massacre agrava crise humanitária na Faixa de Gaza e intensifica pressão internacional contra Tel Aviv
Pelo menos 51 palestinos foram mortos e mais de 200 ficaram feridos nesta terça-feira (17/6) enquanto aguardavam caminhões de ajuda humanitária em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde da Palestina. De acordo com o comunicado, os civis foram atingidos por tiros disparados por forças israelenses durante uma tentativa de distribuição de alimentos.
Os feridos foram levados ao Complexo Médico Nasser, onde ao menos 20 vítimas estão em estado gravíssimo. Testemunhas relataram que os disparos começaram quando um grupo se aglomerava na rotatória Al Tahlia, onde funcionava um ponto de distribuição operado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF). O local, supostamente protegido, teria sido atacado por drones israelenses.
Enquanto isso, as Forças de Defesa de Israel (IDF) alegaram, em nota oficial, que identificaram um “aglomerado” próximo a um dos caminhões presos na área, nas imediações de tropas israelenses em operação. “A IDF está ciente dos relatos e apura os detalhes. Lamentamos qualquer dano a civis inocentes”, declarou o comunicado militar.
Contudo, autoridades palestinas classificaram o episódio como um massacre deliberado contra pessoas em situação de fome extrema. O ministério local responsabilizou diretamente o governo de Binyamin Netanyahu, acusando Israel de transformar centros de ajuda em zonas de extermínio.
Massacres viram rotina durante entrega de alimentos em Gaza
O cenário, infelizmente, não é isolado. Relatórios da própria autoridade de saúde de Gaza revelam que ataques contra civis famintos se tornaram recorrentes desde o fim do bloqueio total imposto por Israel, em maio. Somente na segunda-feira (16), 50 palestinos foram mortos e outros 200 ficaram feridos em circunstâncias semelhantes.

A Fundação Humanitária de Gaza (FHG), única entidade autorizada por Israel a operar a entrega de alimentos na região, é alvo de duras críticas por parte da ONU e de organizações internacionais. A FHG é acusada de violar os princípios da neutralidade humanitária e de atuar em cooperação direta com as forças israelenses.
Entre 18 de maio e 11 de junho, dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) indicam que entre 320 e 340 palestinos morreram ao tentar buscar comida em postos de distribuição da fundação. Mais de 1.800 ficaram gravemente feridos nesse mesmo período.
Apesar da crescente pressão internacional, Israel não comentou o ataque mais recente, repetindo o padrão de justificar disparos como “advertências” ou culpando a presença do Hamas entre civis — uma alegação rejeitada por organizações de direitos humanos e pela própria população local.
A FHG, por sua vez, insiste que já distribuiu mais de 3 milhões de refeições sem incidentes, embora os números e testemunhos da população contradigam essa versão.
Gaza mergulha na fome enquanto Israel prioriza conflito com Irã
De acordo com a ONU, quase 100% da população de Gaza enfrenta insegurança alimentar, sendo que milhares já vivem em estado de fome aguda. Desde o início da guerra em outubro de 2023, quase 55 mil palestinos morreram em bombardeios e ações militares israelenses.
O chefe da UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos), Philippe Lazzarini, denunciou que o atual sistema de distribuição de ajuda “transformou a fome em arma de guerra”. Ele afirma que “pessoas famintas estão sendo mortas por tentar sobreviver”.
A situação se agrava enquanto Israel volta suas atenções para o conflito com o Irã, tratando Gaza como um “front secundário”. Mesmo diante do caos humanitário, o cerco se intensifica, com a ajuda internacional impedida de entrar e os esforços diplomáticos estagnados.
“Era para ser comida. Mas foi uma armadilha. Uma matança.”, disse à Reuters Ahmed Fayad, sobrevivente do ataque. Seu apelo ecoa entre os escombros de um território sitiado: “Digo a todos: não vão até lá.”