Manaus – AM: O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão vinculado ao MP-AM (Ministério Público do Amazonas), abriu, neste mês, quatro procedimentos investigatórios criminais para apurar possíveis atos de corrupção na Prefeitura de Manaus durante a gestão do ex-prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB).
A ex-primeira-dama Elisabeth Valeiko é investigada por suspeitas de atuar na retenção e liberação de pagamentos a fornecedores da Semed (Secretaria Municipal de Educação). Ela também é alvo de inquérito que investiga se houve tráfico de influência e solicitação de vantagem indevida para liberação de pagamento de empresas que prestavam serviços à Manausmed.

O MP investiga, ainda, suspeitas de emissão de notas fiscais fraudulentas, no período de 2018 a 2019, pelas empresas G.V. Intermediação de Negócios Ltda. (Loteria Las Vegas) e C. F. O. BR Soluções Corporativas Ltda. (Pizza Hut), de propriedade de Igor Ferreira Gomes, cunhado de Elisabeth. Os promotores investigam se as fraudes ocorriam mediante a indicação de serviços não executados.
Em uma quarta investigação, que tem como alvo Igor Ferreira Gomes, o Gaeco apura a contratação da empresa Autolabor Indústria e Comércio Ltda. pela Semed sem licitação. De acordo com o Portal da Transparência da Prefeitura de Manaus, a companhia recebeu R$ 796,2 mil para fornecer laboratório didático móvel para alunos do ensino fundamental.
Os quatro procedimentos tramitam em segredo de justiça, mas o ATUAL teve acesso ao documento que autoriza a abertura deles. Nele, os promotores do Gaeco afirmam que a extração de peças para instauração de novos procedimentos “se mostra a medida mais adequada para o aprofundamento das investigações acerca dos 4 fatos”.
“Permitirá a determinação de diligências específicas voltadas ao esclarecimento de cada uma das hipóteses sob investigação, possibilitando a conclusão dos procedimentos de forma mais célere”, diz trecho do despacho assinado pelos promotores Marcele Arruda, Márcio de Mello, Iranilson Ribeiro, Armando Gurgel e José Augusto Palheta Júnior.
A abertura dos procedimentos gerou uma reação dura do ex-prefeito contra o procurador-geral de Justiça, Alberto Nascimento Júnior, na sexta-feira (25), em evento de lançamento da pré-candidatura dele ao Senado. Sem citar os inquéritos, o tucano disse que estava sendo perseguido por adversários e que o procurador era um “moleque de recado do governador”.
Os quatro procedimentos foram abertos a partir de informações colhidas no âmbito da Operação Boca Raton, aberta em novembro 2019 para investigar a ex-primeira-dama, que à época era presidente do Fundo Manaus Solidária, a filha dela, Paola Valeiko Molina, e o genro, Igor Gomes Ferreira, por suspeitas de crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro.
Em dezembro de 2020, o Gaeco realizou busca e apreensão em imóveis de propriedade dos investigados. A apuração do MP apontou grande movimentação de recursos, operações de câmbio e depósito de valores no exterior realizadas por Igor e Paola entre 2017 e 2020, e identificou que Elisabeth tinha procuração para representar Igor em instituições financeiras.
Desde a deflagração da operação, a defesa de Elisabeth, Paola e Igor tenta barrar a investigação, mas sem sucesso. A OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil – Amazonas) chegou a pedir ao TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas) para anular busca e apreensão contra o advogado Diogo Dias Dutra na Operação Boca Raton, mas o pedido foi rejeitado.
Pressão a fornecedores
O procedimento investigatório criminal para investigar Elisabeth por suposta retenção abusiva e autorização de pagamento dos fornecedores da Semed tem como base o depoimento do ex-subsecretário de Administração e Finanças da Semed Thiago Sarubi Rodrigues Guimarães prestado aos promotores do Gaeco em setembro de 2021.
O depoimento, que durou cerca de duas horas, foi marcado por pressão dos promotores e relutância de Thiago em responder questionamentos sobre a ex-primeira-dama. Os promotores chegaram a afirmar que o ex-subsecretário poderia passar da condição de testemunha para investigado caso não colaborasse com a apuração.