Governo aciona o STF para restabelecer aumento do IOF e evitar rombo de R$ 10 bilhões

Chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, em entrevista — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

AGU alega violação da separação de Poderes; sem o imposto, Fazenda terá de bloquear despesas ou criar nova fonte de receita

Recurso imediato ao Supremo

O advogado‑geral da União, Jorge Messias, confirmou nesta terça‑feira (1º) que o governo Lula protocolou uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) no Supremo Tribunal Federal para restaurar o decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Segundo ele, o Congresso extrapolou sua competência ao derrubar a medida na semana passada, abrindo um “precedente perigoso” e ferindo o princípio da separação de Poderes.

“A decisão presidencial foi embasada em amplo parecer técnico‑jurídico. O ato legislativo cria um risco fiscal grave e impõe perda imediata de arrecadação. Por isso, pedimos que o STF reconheça a validade do decreto”, declarou Messias.

Impacto nas contas públicas
  • Perda estimada: R$ 12 bilhões em 2025; R$ 40 bilhões até 2026

  • Meta fiscal de 2024: déficit zero, com margem de R$ 31 bi

  • Contrapartida: bloqueio de despesas ou aumento de outros tributos

Sem a alta do IOF, o Ministério da Fazenda precisará contingenciar aproximadamente R$ 10 bilhões já no próximo relatório bimestral ou apresentar uma alternativa de elevação de receita — cenário politicamente custoso num Congresso avesso a novos impostos.

O que mudaria se o STF derrubar o veto do Congresso?
Operação Alíquota atual Alíquota aprovada no decreto
Compras internacionais (cartão) 3,38 % 3,5 %
Compra de moeda em espécie 1,1 % 3,5 %
Crédito para empresas (dia) 0,0041 % 0,0082 %
“Risco sacado” 0,0041 % 0,0082 %
Seguros VGBL 0 % 5 %
Fundos de recebíveis (FIDC) 0 % 0,38 %

Se o STF acolher a ação, todas as alíquotas em negrito voltam a valer imediatamente.

Reação no Congresso

O decreto legislativo que anulou o aumento do IOF foi aprovado por ampla maioria — 383 × 98 na Câmara e 55 × 22 no Senado — num recado direto ao Palácio do Planalto contra qualquer elevação tributária sem prévia negociação política. Para o presidente da Câmara, Hugo Motta, a votação foi “suprapartidária” e reflete o “limite do contribuinte”.

Cenário fiscal ainda exige receitas

Durante coletiva, o ministro Fernando Haddad lembrou que, além do IOF, o governo depende da MP 1 X29/24, que taxará apostas esportivas (bets), fintechs e criptoativos, além de reduzir incentivos fiscais, para fechar o orçamento de 2026. Caso contrário, a meta de superávit primário de 0,25 % do PIB ficará distante.

Desdobramentos esperados
  1. Relatoria – O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, distribuiu a ação ao ministro Alexandre de Moraes.

  2. Prazos – Câmara e Senado terão dez dias para prestar informações; em seguida, a PGR opina.

  3. Liminar – A AGU pede decisão cautelar para restabelecer o decreto antes do julgamento do mérito.

Enquanto o Supremo não bate o martelo, a equipe econômica corre contra o relógio: precisará apresentar, ainda em agosto, um novo bloqueio de gastos ou uma fonte alternativa de arrecadação caso o impasse persista.