Grupo Cameli fez contratos fictícios para pagar propinas a Braga e Omar, ponte do bilhão

MANAUS – AM: O delator e executivo da Odebrecht Arnaldo Cumplido de Souza e Silva afirmou, segundo documentos anexos do Inquérito nº 4429 (no STF – Supremo Tribunal Federal), que os pagamentos indevidos em troca de favorecimento na obra da Ponte Rio Negro aos ex-governadores Eduardo Braga (PMDB) e Omar Aziz (PSD) foram feitos por meio de contratos fictícios com a Construtora Etam Ltda.

Arnado Cumplido narra os episódios na delação da Odebrecht, mas à época dos fatos ele era diretor de Projetos de Infraestrutura da Construtora Camargo Corrêa, responsável pela obra da Ponte Rio Negro. Nos últimos anos, ele deixou a empresa e passou a trabalhar na Odebrecht.

A Ponte Rio Negro, que ficou conhecida em Manaus como a Ponte do Bilhão, foi licitada em 2007 e venceu a disputa o consórcio formado pelas empresas Camargo Corrêa e Construbase, no valor de R$ R$ 574 milhões. O contrato foi assinado em dezembro daquele ano. No primeiro semestre de R$ 2008, ainda no Governo Braga, o Estado fez um aditivo de R$ 300 milhões, com a anuência do Tribunal de Contas do Estado, mesmo contrariando a Lei de Licitações. O valor da obra ainda sofreu alterações no Governo Omar Aziz, e a ponte foi concluída por R$ 1,1 bilhão.

Rápido histórico

As construtoras do grupo Cameli (Etam, Colorado e Amazônida), mais as empresas Andrade Gutierrez S/A e Camargo Correa S/A receberam o total de R$ 1.102.805.571,94 do governo do Estado, de 2007 a 2009, segundo dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ontem, o tribunal divulgou a lista dos cem maiores destinatários de recursos estaduais no ano passado.

Em 2009, a Etam foi a empresa privada que mais recebeu do Governo do Estado, R$ 258.628.795,26. Em segundo lugar ficou a Andrade Gutierrez (R$ 154.409.356,49), seguida pela Camargo Correa (138.488.872,12).

Em 2008, a Etam também foi a construtora que mais recebeu recursos do Estado: R$ 100.545.590,16. A Andrade Gutierrez recebeu R$ 130.003.882,25 e a Camargo Correa teve repasse de R$ 46.874.687,49. A empresa não contratou com o Estado em 2007, quando a Etam recebeu R$ 40.739.219,56 e a Andrade Gutierrez R$ 93.418.440,99.

As três construtoras do grupo Cameli, dirigidas no Amazonas por Eládio Cameli, da família do ex-governador do Acre Orleir Cameli, receberam, de 2007 a 2009, a soma de R$ 539.610.332,59. No mesmo período a Andrade Gutierrez somou R$ 377.831.679.73 e a Camargo Correa R$ 185.363.559,62.

As cinco empresas participaram das obras do Programa de Saneamento dos Igarapés de Manaus (Prosamim), da construção da ponte sobre o Rio Negro, ainda em curso, e de obras de infraestrutura viária em municípios do interior.

A relação dos cem maiores destinatários dos recursos do Governo do Amazonas no ano passado foi divulgada pelo TCE durante a sessão extraordinária para julgamento das contas do ex-governador e pré-candidato ao Senado, Eduardo Braga (PMDB), de 2009. Vinte e duas construtoras estão na lista, e juntas receberam R$ 1.854.004.686,02 do Estado.