Folha, Globo e Estadão reagiram de forma coordenada ao decreto que elevou o IOF para as camadas mais ricas. Com editoriais carregados, os veículos trataram a medida como “ataque”, resgataram o velho discurso de que o “nós contra eles” divide o país e ignoraram aspectos constitucionais básicos.
Congresso intensifica tensão institucional
Enquanto isso, o Congresso, dominado por Centrão e bolsonaristas, decidiu derrubar o decreto presidencial à surdina e em plena madrugada. Para isso, utilizou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL), que, segundo especialistas, só pode ser usado quando o Executivo invade competências exclusivas do Legislativo — o que não ocorreu neste caso.
Portanto, para juristas sérios, a iniciativa é claramente inconstitucional. Mesmo assim, os presidentes da Câmara e do Senado rasgaram um acordo feito com o Planalto e optaram por sabotar o governo. O objetivo, evidentemente, é deixar Lula enfraquecido até 2026 e abrir espaço para a candidatura de Tarcísio de Freitas.
Além disso, o poder acumulado pelo Legislativo, que detém o controle sobre o orçamento por meio de emendas e acordos informais, configura um parlamentarismo de fato — sem as contrapartidas políticas da governabilidade clássica.
Governo parte para a reação
Diante do ataque, o governo agiu em duas frentes. Por um lado, acionou o STF, buscando a reversão do PDL inconstitucional. Por outro, lançou uma campanha política nas redes para colocar o tema da justiça tributária no centro do debate público.

Como resultado, surgiram vídeos com linguagem dura, criados com inteligência artificial, que apelidam o presidente da Câmara de “Hugo Nem Se Importa” e chamam o Congresso de “inimigo do povo”. Embora os vídeos contenham críticas ácidas, eles permanecem dentro dos limites democráticos e não promovem ataques pessoais ou ameaças.
Contudo, a campanha gerou forte reação entre parlamentares e comentaristas. Ciro Nogueira, inclusive, lançou uma ameaça velada: “Se recorrer ao STF, vai ser pior para o país”.
Imprensa corporativa entra em campo
Simultaneamente, a grande imprensa tratou o caso como um escândalo fabricado pelo Planalto. O Estadão, por exemplo, publicou um editorial com o título quase infantil: “Lula não gosta da iniciativa privada”. Já a Folha debochou da pauta da luta de classes, dizendo que o presidente tenta transformar a elevação de um imposto em “cruzada heroica”.
Além disso, O Globo alegou que tributar os super-ricos poderia, de alguma forma, prejudicar os mais pobres — um argumento sem sustentação técnica, mas que serve bem ao público conservador.
Apesar do peso dos editoriais, nenhum deles sequer cogitou a possibilidade de a decisão do Congresso ser inconstitucional. Essa omissão reforça a tese de que, quando o interesse da elite econômica está em jogo, os princípios jurídicos podem ser convenientemente ignorados.
Por consequência, o Jornal Nacional também entrou na ofensiva. Com uma reportagem de quase sete minutos, exibida na quinta-feira, o telejornal deu amplo espaço ao Centrão e aos bolsonaristas, que se defenderam da campanha do governo. A matéria chamou os vídeos de “ataques” e não mencionou a ilegalidade do PDL.
Assim, como afirmou o jornalista Lúcio de Castro, tratou-se de um “editorial disfarçado de jornalismo”, feito para defender aqueles que hoje sequestraram o Congresso Nacional.
STF tenta apagar o incêndio
Enquanto os poderes se digladiavam, o STF decidiu mediar o conflito. O ministro Alexandre de Moraes suspendeu tanto o decreto presidencial quanto o PDL do Congresso, buscando um equilíbrio institucional. Além disso, convocou uma audiência de conciliação entre Executivo e Legislativo para o dia 15 de julho.
A decisão, embora compreensível do ponto de vista político, é questionável sob a ótica jurídica. Afinal, apenas os decretos do governo tinham amparo legal. Ignorar essa diferença, portanto, cria um precedente perigoso.

O governo federal está tentando, mesmo que timidamente, corrigir distorções históricas na cobrança de impostos. O aumento do IOF não é uma revolução, mas simboliza um passo na direção de mais justiça fiscal.
No entanto, a elite econômica — representada por setores do Congresso e da mídia — reagiu de forma desproporcional. Acostumados a vencer todas as disputas, esses grupos não toleram perder.
Agora, resta saber:
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O governo manterá o embate até 2026?
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A imprensa corporativa seguirá alinhada ao projeto bolsonarista disfarçado de liberal?
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O STF conseguirá manter a estabilidade sem comprometer a Constituição?
Por enquanto, o tribunal zerou o jogo. A bola está no meio do campo. E os próximos lances prometem ser decisivos.