
Teerã atualiza número de mortos para 935 após ataques e reafirma compromisso com o programa nuclear
O governo do Irã acusou nesta segunda-feira (30) o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de utilizar o vaivém sobre as sanções econômicas como uma estratégia de pressão psicológica e manipulação midiática. A declaração surge em meio à escalada de tensão entre Washington e Teerã, agravada por ataques militares e trocas de acusações diplomáticas nas últimas semanas.
“Essas declarações devem ser vistas mais no contexto de jogos psicológicos e midiáticos do que como uma expressão séria a favor do diálogo ou da resolução de problemas”, afirmou Esmaeil Baghaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, durante coletiva de imprensa em Teerã.
A crítica veio após Trump recuar, mais uma vez, sobre a suspensão de sanções. Na última sexta-feira (27), ele descartou a medida alegando que o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, teria provocado os EUA ao dizer que o Irã havia “dado um tapa na cara dos americanos” com o recente ataque a uma base no Catar.
Dois dias antes, o republicano havia sinalizado uma possível flexibilização das restrições, mencionando que “o Irã vai precisar de dinheiro para se reconstruir”, durante fala na cúpula da Otan, na Holanda.
Escalada militar e crise humanitária
Desde o dia 22 de junho, quando os EUA bombardearam instalações nucleares iranianas em Natanz, Isfahan e Fordow, em resposta ao apoio de Teerã ao Hamas, o conflito aumentou de proporção. A retaliação iraniana contra a base americana no Catar foi vista como simbólica: não causou vítimas, e Teerã notificou Washington com antecedência.
Em contrapartida, o Irã revelou um novo balanço das vítimas, elevando para 935 o número de mortos durante os 12 dias de conflito — entre eles, 38 crianças e 132 mulheres. Os dados foram divulgados por um porta-voz do Judiciário à mídia estatal, mas não podem ser verificados de forma independente, devido à rígida censura imposta pelo regime.
Além disso, 79 presos teriam morrido no bombardeio israelense à Prisão de Evin, em Teerã, número acima do inicialmente relatado (71). O Irã acusa Israel de cometer “crimes de guerra em série”, e promete levar provas a organismos internacionais.
“A agressão do regime sionista não teve justificativa e atingiu alvos civis deliberadamente”, disse Baghaei. “Não vemos distinção entre militares e civis entre as vítimas quando o objetivo é destruir nossa soberania.”
Programa nuclear continua
Apesar dos ataques, o Irã reafirmou que seguirá com seu programa nuclear, que, segundo o governo, é voltado para fins pacíficos. No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertou que o país vem enriquecendo urânio a 60% de pureza, um patamar próximo dos 90% exigidos para armamento nuclear — e muito acima dos 3,67% tolerados em reatores civis.
Segundo o vice-chanceler iraniano, Majid Takht-Ravanchi, os ataques americanos e israelenses expõem a “lei da selva” imposta por potências ocidentais:
“Podemos discutir o nível de enriquecimento e a capacidade. Mas dizer que o Irã deve ter enriquecimento zero, e, se não concordar, será bombardeado, é puro imperialismo. Isso não é diplomacia, é ameaça.”
Israel sob holofotes
A guerra iniciada por Israel em 13 de junho incluiu ataques cirúrgicos contra cientistas, militares e civis iranianos, sendo considerada a mais grave agressão desde a guerra Irã-Iraque nos anos 1980. O governo israelense justificou a ofensiva como uma tentativa de frear a capacidade nuclear do Irã, apesar de Tel Aviv nunca ter assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e de se recusar a submeter suas instalações a inspeções internacionais.
Clima internacional de tensão
Com a participação direta dos EUA e a escalada do número de vítimas, o conflito abre espaço para uma nova crise geopolítica internacional. Analistas temem que o aumento das hostilidades, aliado ao colapso diplomático entre as potências, comprometa não apenas o Oriente Médio, mas a segurança global.