Israel declara que confronto com o Irã continua – mas mira novamente o colapso do Hamas em Gaza

Palestinos choram a morte de parente durante ataque a um ponto de distribuição de comida em Gaza - Eyad Baba/AFP

Tel Aviv | 24.jun.2025 – O cessar-fogo que encerrou, por ora, doze dias de trocas de mísseis e bombardeios entre Israel, Irã e Estados Unidos não significa fim de guerra, adverte o general Eyal Zamir, chefe do Estado-Maior israelense.

Segundo o comandante, a ofensiva aérea liderada por Washington e Jerusalém apenas atrasou – “em anos, não em décadas” – o programa nuclear e o arsenal de mísseis iranianos. “Um capítulo decisivo terminou, mas a campanha contra Teerã prossegue”, afirmou Zamir, pedindo que as Forças de Defesa do Estado judeu “não descansem sobre os louros”.

Divergência com Trump

A leitura de Zamir contrasta com a narrativa do presidente americano Donald Trump, que no sábado (21) anunciou ter “obliterado” o núcleo do projeto atômico dos aiatolás com três ataques simultâneos a Fordow, Natanz e Isfahan.
Fontes de inteligência citadas pelo New York Times, porém, estimam que o prejuízo iraniano seja de meses, não anos – e que cerca de 400 kg de urânio enriquecido a 60% permanecem intactos em instalações subterrâneas.

Prioridade: reféns e queda do Hamas

Com o Irã temporariamente contido, Binyamin Netanyahu retoma a agenda doméstica: desmantelar o Hamas na Faixa de Gaza e libertar os 50 reféns israelenses — 28 deles já presumidos mortos.
“A luta volta a Gaza”, confirmou Zamir, prometendo “máxima pressão” sobre o grupo palestino. Desde o massacre de 7 de outubro de 2023, Israel mantém campanha militar que já destruiu, segundo a ONU, mais de 90% da infraestrutura do enclave e provocou crise humanitária sem precedentes.

Campo de batalha ainda ativo

Mesmo no dia do cessar-fogo, drones israelenses atacaram dois pontos de distribuição de alimentos em Gaza. O Hamas fala em 44 mortos; Tel Aviv diz apurar o episódio. O saldo oficial de vítimas ultrapassa 56 mil palestinos, número que Israel contesta por incluir combatentes.

Bloqueios a comboios humanitários persistem — justificativa: impedir desvio de suprimentos pelo Hamas. Agências internacionais alertam para risco de fome em massa entre os dois milhões de habitantes do território.

Pressões internas e risco político

Netanyahu capitalizou a “vitória estratégica” contra Teerã, mas enfrenta dissidência interna. Partidos ultradireitistas rejeitam qualquer negociação com o Hamas e exigem ofensiva total, enquanto famílias dos reféns cobram acordo imediato. O primeiro-ministro, acusado de corrupção, depende do apoio dessa base para manter-se no cargo — o que, segundo críticos, molda sua política de segurança.

O que vem a seguir?
  1. Israel reforça vigilância no Norte contra o Hezbollah e mantém caças em prontidão diante de um Irã ferido, porém não derrotado.

  2. Estados Unidos monitoram sinais de reativação das centrífugas iranianas, temendo volta acelerada ao nível de bomba nuclear.

  3. Hamas tenta sobreviver sob bombardeios e escassez, apostando que a opinião pública internacional pressione por cessar-fogo duradouro.

Entre promessas de paz de Trump e alertas de Zamir, o Oriente Médio continua numa frágil pausa.