Jornal Nacional fala fino com Jair Bolsonaro

Em rede nacional, William Bonner ouviu calado que a Globo apoiou a ditadura e recebe bilhões de dinheiro público a partir de repasse desproporcional de publicidade. No momento mais polêmico, Bolsonaro bateu boca com Renata Vasconcellos

O tom da entrevista com Jair Bolsonaro (PSL) no Jornal Nacional nesta terça-feira (28) foi diferente do observado na noite anterior, quando o sabatinado era Ciro Gomes (PDT).

William Bonner pareceu acovardado. Porta-voz da Globo e editor-chefe do JN, o apresentador ouviu calado que a emissora apoiou a ditadura militar e recebe bilhões de dinheiro público a partir de repasse desproporcional de publicidade.

Em outro momento, ao ser confrontado com a “moralidade” do uso de auxílio moradia, Jair Bolsonaro perguntou a Bonner sobre a “pejotização” dos jornalistas da casa.

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“Vão me desqualificar por receber auxílio moradia, que é legal, como a “pejotização” de vocês que também é legal?”, questionou. Bonner foi rápido: “Vamos falar de economia, então”.

Coube à Renata Vasconcellos o papel de enfrentamento. No momento mais tenso da entrevista, a apresentadora leu a seguinte declaração proferida por Bolsonaro: “Eu não empregaria [mulheres e homens] com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente”.

Bolsonaro negou o que havia dito e retrucou dizendo que ela provavelmente ganhava menos do que Bonner. Renata rebateu o candidato do PSL afirmando que ela, como cidadã, podia lhe fazer tais questões porque pagava com impostos o salário dele e que o contrário não acontecia. A apresentadora ainda acrescentou que não aceitaria ganhar menos que outro homem exercendo as mesmas funções.

“Eu poderia, até como cidadã e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questões sobre os seus proventos. O senhor é um funcionário público, um deputado federal há 27 anos, e como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor que, como mulher, jamais eu aceitaria um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções”, respondeu a jornalista.

Além de apresentadora, Renata é editora-executiva do telejornal; Bonner, editor-chefe, posição hierárquica superior à dela.

Embora pareça contraditório, ao não responder nada do que lhe foi perguntado, Jair Bolsonaro conseguiu pautar a entrevista, emparedou a Globo e é provável que não tenha perdido um único voto.

Confira outros trechos da entrevista:

SOBRE FICAR ‘REFÉM’ DE PAULO GUEDES

“Eu tenho que confiar nele como tenho que confiar no meu ministro de Justiça, Defesa, entre outros”, disse Bolsonaro.

Bonner fala que é um conceito de gestão que não se pode contratar alguém que não pode ser demitido e que é impossível garantir que um subordinado fique até o final do mandato. Ele questiona o que aconteceria se Guedes quisesse sair botando alguma condição.

“Duvido pelo que conheço de Paulo Guedes que esse divórcio venha a acontecer” e disse que “se porventura vier a acontecer não será por capricho meu ou dele”.

DIREITOS TRABALHISTAS E CLT

“O salário hoje é muito pra quem paga e pouco pra quem recebe”, disse Bolsonaro, dizendo para Bonner “não jogar para o candidato a responsabilidade”.

Ele perguntou porque Bolsonaro votou contra a PEC das Domésticas. Ele disse que a lei levou pessoas que faziam trabalhos domésticos a serem diaristas.

O candidato também perguntou para Bonner sobre dar todos os direitos trabalhistas para os militares: “Você seria favorável?” e já completou: “Eu sei que o entrevistado sou eu”.

HOMOFOBIA

Renata pergunta sobre homofobia do candidato, por declarações de que “vizinho gay desvaloriza imóvel” e que preferia perder um filho a que ele fosse gay, entre outras

Bolsonaro repetiu sobre sua mobilização contra o “Kit Gay” de educação sexual nas escolas.

Pressionado pelos entrevistadores por não ter respondido à pergunta, ele disse que “Tem muito gay que é pai e é meu e me apoia. Peço até desculpas mas foi um momento de temperatura alta”.

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