Justiça dos EUA sobe o tom, classifica postura do governo Trump como ‘chocante’ e exige recuo em caso de imigrante deportado por engano

BP – Tribunal negou por unanimidade pedido do governo para suspender ordem que determinou depoimento de autoridades da administração Trump.

Um tribunal federal de apelações dos Estados Unidos criticou duramente o governo de Donald Trump por não colaborar com a Justiça no caso do imigrante Kilmar Abrego Garcia, (foto destaque) que foi deportado por engano para El Salvador. Em decisão unânime, os juízes classificaram como “chocante” a alegação de que nada pode ser feito para trazê-lo de volta e exigiram que o governo recue.

A Corte de Apelações do 4º Circuito rejeitou o pedido do governo para suspender a ordem da juíza Paula Xinis, que determinou que ao menos quatro autoridades dos departamentos de Imigração, Segurança Interna e Estado prestem depoimento sob juramento sobre as tentativas de Garcia.

A decisão afirma que o governo Trump estaria “reivindicando o direito de esconder residentes deste país em prisões estrangeiras sem qualquer aparência de devido processo legal”.

Os juízes destacaram que a justificativa do governo — de que não pode mais agir porque Abrego Garcia já foi deportado — é inaceitável. “Isso deveria ser chocante não apenas para juízes, mas para o senso intuitivo de liberdade que os americanos, mesmo longe dos tribunais, ainda prezam.”

Segundo os magistrados, o embate entre Executivo e Judiciário está “perigosamente próximo de um atrito irreversível que promete enfraquecer ambos”. Eles também fizeram um alerta ao governo.

“Essa é uma derrota garantida para todos”, escreveram. “O Judiciário perde com os ataques constantes à sua legitimidade. O Executivo perde com a percepção pública de ilegalidade — e com todas as consequências que isso traz.”

A juíza Xinis, que atua em Maryland, já havia determinado que o governo fornecesse documentos e explicações sobre os esforços feitos para reverter a deportação, ocorrida em 15 de março. O governo reconheceu o erro, mas afirmou não conseguir reverter a situação.